São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 1994
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Massacre foi narrado em 'Os Sertões'

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

A chamada "rebelião de Canudos", um dos maiores acontecimentos épicos da história brasileira, ocorreu nos anos de 1896 e 1897 na região nordeste da Bahia.
A população miserável do arraial de Canudos era liderada pelo pregador messiânico Antonio Vicente Maciel, o Conselheiro (1830-97), que se opunha às leis da recém-implantada República, em especial o casamento civil.
Acusados de monarquismo e de saquear fazendas e vilas vizinhas, os seguidores do Conselheiro resistiram, no espaço de um ano, a três investidas repressivas do Exército. Na quarta, foram dizimados.
Os últimos quatro rebeldes foram mortos em 5 de outubro de 1897. No dia seguinte, os 5.200 casebres do arraial foram incendiados. Conselheiro tinha morrido em 22 de setembro.
A saga de Canudos foi narrada com impressionada riqueza de detalhes no livro "Os Sertões" (1902), de Euclides da Cunha (1866-1909), um dos maiores clássicos da literatura brasileira.
Engenheiro civil, jornalista e escritor (foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras), Euclides construiu seu livro a partir de reportagens que enviou para o jornal "O Estado de S. Paulo".
A obra –dividida nos capítulos "A Terra", "O Homem" e "A Luta"– não só deu conta da violência do massacre como também revelou ao país e ao mundo a realidade arcaica e miserável dos sertanejos nordestinos.
Em suas duas primeiras partes, antes de entrar na narração do conflito propriamente dito, o livro descreve minuciosamente as condições geográficas da região e as características culturais e antropológicas de seus habitantes.
Em "Os Sertões" está a famosa e emblemática frase: "O sertanejo é antes de tudo um forte".
O livro causou comoção quando lançado e influenciou inúmeras obras posteriores, tanto na área sociológica como na ficção.
O exemplo mais famoso é o do romance "A Guerra do Fim do Mundo", recriação da tragédia de Canudos publicada pelo peruano Mario Vargas Llosa em 1981.
Embora tenha visitado a região do massacre, Llosa admitiu que sua principal fonte foi a obra de Euclides da Cunha.
Uma curiosidade: o nome Canudos vem dos "esquisitos cachimbos de barro em canudos de metro de extensão" usados pelos moradores do arraial, segundo conta Euclides, baseado no relato de um padre da região.(JGC)

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