São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 1994
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Colóquio discute arte brasileira no exterior

HÉLIO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Não há recepção de arte brasileira nos EUA", afirmou o crítico e curador argentino Carlos Basualdo num seminário que pretendia discutir, justamente, a recepção da arte brasileira no exterior.
O seminário, realizado na tarde de anteontem no auditório do Museu de Arte Contemporânea (MAC), no parque Ibirapuera, reuniu durante mais de três horas oito curadores e críticos estrangeiros (leia abaixo sobre os participantes).
Nelson Aguilar, curador da Fundação Bienal, apresentou os convidados e mediou o debate.
A afirmação de Basualdo, corroborada pela francesa Catherine David e pelo norte-americano Edward Sullivan, é de que tanto nos EUA quanto na Europa não se distingue a arte brasileira do que se convencionou chamar de "arte latino-americana".
Para Basualdo, esse conceito, criado nos anos 60, faz parte de uma das "estratégias de neutralização" da recepção da arte sul-americana nos EUA.
O boom da arte mexicana nos EUA, a partir dos anos 60, foi identificado por Basualdo como um dos responsáveis pela deformação da imagem de uma possível arte latino-americana.
"Interesses mexicanos e dos EUA contribuíram para que a visão de arte que o México exportou –e o resto do mundo aceitou– fosse muito caricatural", defendeu Catherine David.
Edward Sullivan, da Universidade de Nova York, defendeu que a arte mexicana funcionou até agora como um espécie de filtro para o que acontece na América Latina.
"Muita gente nos EUA acha que toda a arte produzida na América Latina se parece muito com a mexicana", disse Sullivan, para quem o Brasil responde por "um dos mais lamentáveis estereótipos entre o público norte-americano".
O pequeno número de publicações especializadas em arte nos países latino-americanos e a dificuldade para a circulação de idéias entre esses países também foi apontado como um dos entraves à divulgação da arte brasileira no exterior.
Nacionalismo
"Precisamos esquecer o nacionalismo e valorizar as personalidades e os indivíduos", defendeu o colecionador e curador argentino Jorge Helft. "A entrada da arte brasileira nos EUA ou na Europa depende de indivíduos, e não de países", afirmou Helft.
David interveio a favor de Helft: "A solução para o caso brasileiro, se é que existe um caso brasileiro, não é assumir uma postura nacionalista", disse a curadora da próxima Documenta de Kassel em português de sintaxe perfeita.
A alemã Karin Stempel observou que a arte produzida na América do Sul é vista, em seu país, como uma espécie de "pot-pourri de cheiros e sabores exóticos".
Stempel criticou também a procura de uma identidade nacional. Para ela, "a questão da identidade sempre foi uma questão de poder": "É preciso sempre saber quem está identificando quem".
"O reconhecimento da identidade está na descoberta de um ponto cego nos nossos próprios olhos", escreveu Stempel no texto que leu durante o colóquio.
A discussão, assistida por cerca de cem pessoas, faz parte da programação paralela da exposição "Bienal Brasil Século 20", aberta também anteontem para o público.
A Bienal Brasil é uma preparação para a 22ª Bienal Internacional de São Paulo, que será inaugurada em outubro no Pavilhão da Bienal.

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