São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 1994 |
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Coincidências Até ontem, a inexistência de instrumentos financeiros em URV era apontada como um dos empecilhos à rápida adoção do novo indexador. Com a autorização do Banco Central para que se criem tais instrumentos, haverá maior segurança para utilizar o índice também na formação de preços. As novas aplicações reduzirão riscos. Salários recebidos em URVs poderão continuar a ser corrigidos por esse indexador. Vendas a prazo terão financiamentos na mesma base de correção das faturas. À medida que a URV determina uma quantidade cada vez maior de operações econômicas, que corrige um maior número de contratos e valores, ela ganha relevância e, portanto, aceitação. Aliás, é na generalização do novo índice que se baseia o plano de estabilização. Por isso a introdução da URV no setor financeiro já era esperada. O mesmo pode-se dizer de seu emprego nas tarifas públicas, anunciado para maio. O ritmo das conversões, entretanto, suscita dúvidas. Se também as aplicações financeiras poderão logo estar em URVs, por que a sociedade deve esperar ainda mais de dois meses com altíssima inflação –mantendo-se a data hipotética de 1º de julho– até a introdução do real? A via processual que norteia o plano de estabilização e o princípio de que a sociedade e o mercado devem negociar e adaptar-se progressivamente às novas regras estão corretos, não há dúvida. Mesmo assim, a demora do governo em deslanchar a URV e o real permite que se questione a influência do calendário eleitoral sobre o plano. Afinal, o ex-ministro Fernando Henrique Cardoso demorou oito meses para elaborar seu programa econômico. Já se passaram quase dois meses de vigência da URV e só agora será estudada a conversão das tarifas públicas. A introdução da nova moeda virá, finalmente, a poucos meses das eleições, de modo que a inflação deve estar baixa no dia do pleito. A influência que a estabilização tende a exercer sobre os eleitores mostra que há algo mais do que mera coincidência entre a agenda política e os prazos econômicos. Próximo Texto: Mais pobres Índice |
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