São Paulo, quinta-feira, 28 de abril de 1994
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Marilyn é decoração em 'Adorável Pecadora'

RUY CASTRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando Marilyn Monroe rodou "Adorável Pecadora", em 1960, o mundo como que se havia acomodado à existência da atriz. Ela já não provocava os "frissons" de antes. Quatro anos tinham se passado desde o seu último sucesso ("Nunca Fui Santa") e, naquela época, isso era tempo demais para uma estrela –mesmo Marilyn– ficar longe dos refletores.
"Quanto mais Quente Melhor", de um ano antes, era mais um sucesso de Tony Curtis e Jack Lemmon do que dela. A coisa mais interessante que fizera no interregno fora trocar de marido: demitira o jogador de beisebol Joe DiMaggio, simpático e bisonho, e se casara com o teatrólogo Arthur Miller, que fazia uma exagerada idéia do próprio talento.
Para que Marilyn voltasse a ser a sensação que virava a cabeça dos três ou quatro sexos vigentes nos anos 50, seria preciso que "Adorável Pecadora" fosse muito melhor. A começar pela sua própria participação, que deveria ter sido expandida proporcionalmente à expansão sofrida por sua cintura –ela estava mais roliça do que nunca.
Pena, porque a história (o milionário que se apaixona por quem tenta ridicularizá-lo) é mais velha do que ficar de cócoras e as canções, dos tarimbados Jimmy Van Heusen e Sammy Cahn, são de carregação. O melhor momento musical foi emprestado a Cole Porter, com Marilyn cantando "My Heart Belongs to Daddy".
Não que o filme não tenha coisas engraçadas, como a idéia de Montand contratar Bing Crosby, Gene Kelly e Milton Berle para ensiná-lo a cantar, dançar e contar piadas. E, entre os coadjuvantes, estão o grande Tony Randall (deu azar de ter sido contemporâneo de Jack Lemmon) e Wilfrid Hyde-White (o parceiro de Rex Harrison em "My Fair Lady").
George Cukor, o diretor que, em seu apogeu, extraía o máximo de Greta Garbo, Katherine Hepburn e Judy Holiday, não pôde fazer muito com Marilyn, mas não foi sua culpa.
Durante toda a filmagem, a diretora do Actor's Studio, Paula Strasberg, que ajudou a pirar a cabeça de Marilyn, ficou no "set" dando palpites no seu trabalho. Se Cukor a expulsasse dali, como deveria ter feito, a boba Marilyn iria junto.
Com tudo isso, o mais emocionante de "Adorável Pecadora" foi o romance fora das telas entre Marilyn e Yves Montand, que não pareceu abalar a mulher de Yves, Simone Signoret, mas plantou um chifre público na testa de Arthur Miller e de todos nós. Um filme ("Os Desajustados") e dois anos depois, Marilyn morreria e a viuvez seria mundial.
Título: Adorável Pecadora (Let's Make Love)
Produção: EUA, 1960
Direção: George Cukor
Elenco: Marilyn Monroe, Yves Montand e Wilfrid Hyde-White
Distribuição: Abril Vídeo, tel. 011/832-1555

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