São Paulo, quinta-feira, 28 de abril de 1994
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A caixa-preta

Louvável a nova ofensiva do presidente Itamar Franco contra o hermetismo da Petrobrás. Afinal, o mínimo que se espera de uma empresa pública é que torne públicas as informações sobre suas contas. Mais ainda se, como é o caso da Petrobrás, trata-se de empresa pública de capital aberto, ou seja, com papéis em Bolsas, nas quais o destino de uma empresa se mede pela transparência de suas informações.
Os precedentes, entretanto, desanimam. Foi o mesmo Itamar quem exigiu publicamente, há meses, que a Petrobrás se explicasse, que submetesse suas planilhas de custos a olhares externos. Em vão.
Os privilégios da Petrobrás tornam-se ainda mais graves às vésperas de mais uma tentativa de estabilização econômica. Ontem decidiu-se, por exemplo, que tarifas públicas sejam convertidas segundo critérios que respeitam o espírito com que foi criada a URV e, portanto, com que foram convertidos os salários de todos os brasileiros. Não é difícil adivinhar quem afinal conseguiu manter-se à parte dessa decisão crucial e que vai afetar consumidores e empresas: a Petrobrás.
Para tornar ainda mais flagrante o descaso da empresa para com o público, sabe-se, mesmo sem abrir a caixa-preta, que o preço internacional do petróleo tem caído sem que os usuários brasileiros fossem minimamente beneficiados com isso. Confortável monopólio que alimenta uma felizarda corporação.
A estatal defende seus interesses como se a população nada tivesse a ver com o assunto. Pior para o consumidor, para as finanças públicas e para o plano de estabilização. Tamanhas distorções só serão corrigidas quando for quebrado o monopólio da Petrobrás. Se a empresa é de fato tão competente como alega, não há motivo para temer o fim da exclusividade de que hoje goza.

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