São Paulo, quinta-feira, 28 de abril de 1994
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Arquipélago virgem deslumbra europeus

DO ENVIADO ESPECIAL À VENZUELA

Dura 35 minutos, desde o aeroporto Símon Bolívar, em Caracas, o vôo até Los Roques, o arquipélago virgem que exerce sobre os venezuelanos o mesmo fascínio que Fernando de Noronha tem para os brasileiros.
Pouco antes do Dornier, turboélice alemão da empresa Aerotuy, aterrissar na pista rudimentar da ilha Gran Roque, os 19 passageiros são brindados com uma surpreendente aquarela marinha.
O mar azulado se funde com o esmeralda das lagunas. Uma intensa luminosidade transforma a lâmina de água em espelho, que denuncia na profundeza a presença de rochedos, ilhotas e formações de corais –como anfíbios, emergem ao gosto das marés.
Distante 176 km ao norte de Caracas, o arquipélago tem a forma de um ovo e se estende por 39 quilômetros no sentido leste-oeste.
Pode ser atingido também por barco, em viagem que se prolonga por seis a oito horas. Não é empreitada para amadores.
É necessário guiar-se por mapas especializados, para evitar choques com recifes, autênticas armadilhas para as embarcações. Todo cuidado é pouco porque alguns corais proliferam tão rapidamente entre as ilhas que nem constam das cartas de navegação mais atualizadas.
Nesse trajeto, os iates são seguidos por hordas de pelicanos, uma das 45 espécies que habitam o arquipélago. Em maio, gaivotas brancas rumam para uma ilhota conhecida como Francês para tecer seus ninhos. Tartarugas verdes são vistas nas praias, onde põem seus ovos.
Esqueça hotéis cinco estrelas ou outros requintes da moderna infra-estrutura turística. Inexiste água potável suficiente. Uma usina de dessalinização é operada pela Marinha para abastecer os habitantes do local.
Além disso, Los Roques tem status de parque nacional e, desde 1972, seus domínios estão sob proteção ambiental. A pesca é protegida e, de suas águas, saem só 99 toneladas anuais de pescado.
Uma estação de biologia marinha funciona há três décadas na Estação Sul e conduz programas para aumentar a população de lagostas e caranguejos.
Ao norte dessa ilha foram encontrados vestígios da civilização pré-hispânica –vasos de cerâmica e outros objetos feitos de ossos de tartaruga, atualmente expostos no Museu de Arte de Caracas.
Pode-se optar por pousadas confortáveis ou pela excursão de um dia oferecida pela Aerotuya, a US$ 120 (CR$ 137,5 mil).
Vivem em Gran Roque 900 pessoas. São famílias de pescadores vindos de Margarita. É uma das poucas porções habitadas do arquipélago paradisíaco, que tem 50 ilhas e 300 ilhotas, rochedos e corais, a maioria intocada.
Os nomes das ilhas e ilhotas foram originadas de corruptelas. Por exemplo: Sarky provém de uma adaptação fonética de "soeur" (irmã, em francês) e "key" (ilha rasa, em inglês).
Ao desembarcar em Gran Roque, o passageiro de excursão é transferido para uma embarcação que o conduz a um catamarã, que dispõe de serviço de restaurante a bordo.
O catamarã Neptuno, da Aerotuy, contorna preguiçosamente algumas praias, cobertas por areia impecavelmente branca e formadas por corais pulverizados.
A temperatura beira os 30ºC. Os passageiros recebem roupa de mergulho, máscara e pé-de-pato. Vão juntar-se a um grupo de turistas italianos e alemães que já se agitam nas águas claras do Caribe.
Há pouca sombra natural. Óculos escuro e guarda-sol são equipamentos indispensáveis para quem deseja se bronzear nas praias.
Os turistas italianos são estudantes de Milão, que se declaram maravilhados com o arquipélago. Nunca ouviram falar em Fernando de Noronha, mas anotam seu nome ao serem informados da existência de golfinhos na costa brasileira. (Nelson Blecher)
Conversões pelo dólar-turismo a CR$ 1.146,00.

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