São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 1994
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Lula vai pedir "bom senso" ao partido

CARLOS EDUARDO ALVES
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Luiz Inácio Lula da Silva abre o 9º Encontro Nacional do PT hoje em Brasília com um olho no eleitorado e outro no próprio partido.
"Nós estamos cheio de bom senso para votar coisas boas", disse Lula ontem ao responder sobre se via disposição no PT para não radicalizar o seu programa de governo.
O apelo ao "bom senso" seria feito mais diretamente aos líderes das correntes petistas em reuniões ontem à noite. Lula não quer evitar a votação em plenário de temas polêmicos, mas quer assegurar uma maioria nas questões polêmicas.
O virtual candidato do PT à Presidência da República admitiu que comandará a tentativa de costurar uma maioria nos temas que mais lhe interessam, como não-priorizar a moratória na abordagem da dívida externa.
"Se não houve acordo ainda, nós vamos construí-lo", afirmou Lula.
O Encontro Nacional do PT, que é a convenção que oficializará a candidatura de Lula à Presidência, definirá o programa de governo de Lula e as alianças do partido nas alianças estaduais.
Moratória
Rui Falcão, vice-presidente nacional do PT e líder da corrente "Opção de Esquerda", admitiu que Lula "tem peso decisivo no partido". Falcão se disse disposto a negociar com Lula até a questão da moratória.
Falcão ainda quer que o pagamento da dívida seja suspenso enquanto durar a auditoria sobre ela num eventual governo petista. "Mas podemos chegar a uma posição intermediária", disse Falcão.
O texto do programa preliminar, que é defendido por Lula, contempla claramente a possibilidade de adoção da moratória, mas para acalmar investidores estrangeiros e empresários privilegia a retórica da renegociação com os países credores.
Uma parte da ala liderada por Falcão deve votar com o grupo de Lula, o "Unidade na Luta", para manter o texto preliminar. Isso só não ocorrerá se Lula não se empenhar diretamente para conseguir o acordo.
Confiante no acordo com o grupo de Falcão, ou mesmo nas dissidências nas áreas majoritárias de esquerda e extrema esquerda do partido, o deputado Aloizio Mercadante, do grupo ligado a Lula, disse ser impossível um acordo que coloque claramente a moratória como princípio para a dívida externa.
"A ênfase é a negociação e fora dela não tem acordo", declarou Mercadante.
Lula pensa em dizer, no discurso que fará na abertura do encontro, que a crise do país exige do PT um comportamento firme mas sem sectarismo na campanha eleitoral. Insistirá também que quer um programa de governo factível.

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