São Paulo, sábado, 30 de abril de 1994
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Falabella e Caruso tropeçam em novas comédias

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Tudo começa com a tragédia de Édipo, que lamenta os seus horrores com a filha, Ismênia. Miguel Falabella escreveu uma cena para uma atriz que faz uma atriz que faz Sófocles, ou algo que se quer uma tragédia clássica. Um bom sinal, era o que parecia, das novas ambições do maior dos comediógrafos cariocas, hoje em dia. Era o que então parecia. Não demorou para a ilusão desaparecer.
Logo estava o teatro inteiro enfrentando a mais óbvia das piadas, que é a divisão da platéia em duas, para um lado reagir de um jeito, outro completar de outra forma. Não há nada de ambicioso na peça de Miguel Falabella. Pelo contrário, idéias de outros textos vão surgindo como se fossem novidade, num mosaico preguiçoso em que mal se percebe a existência de dramaturgia ou de autoria.
Assim é que Ismênia não passa de um nome engraçadinho, tirado por acaso de uma tragédia grega. Assim é, também, que um dos personagens interpretados pela comediante Cláudia Gimenez faz que filosofa sobre a questão dos degraus que separam dois seres humanos, exatamente como em "Seis Degraus de Separação". Assim é, ainda, que a filha de uma psicanalista ganha o nome também engraçadinho de Melanie.
A melhor criação em "Como Encher um Biquíni Selvagem', aliás, a criação típica de Miguel Falabella, termina sendo a empregada Crioula. Mas é um só personagem, entre uma dezena.
"Fim de Papo"
O maior dos comediógrafos paulistanos, Marcos Caruso, autor de um fenômeno como "Trair e Coçar", também fez nova peça que indicava ambições grandiosas. "Fim de Papo", longe da banalidade de seu texto de maior sucesso, pretende ou ambiciona muito mais. Quer ser uma comédia de teatro do absurdo, ainda hoje um parâmetro para o humor supostamente culto, até mesmo "highbrow". Escreveu uma comédia elevada.
É cedo para dar certeza –pois a montagem de "Fim de Papo" não tem uma Denise Fraga ou Myriam Muniz para revelar tudo o que seu maior personagem feminino, Erica, permite em interpretação– mas o engraçado Marcos Caruso não parece muito à vontade com o formalismo, o cinismo e tudo o mais que é exigido pelo teatro do absurdo. Nem parecem ser dele os diálogos sempre repetitivos e tão vazios deste novo texto.
O outro caminho que o dramaturgo vinha arriscando, de uma comédia mais próxima do realismo social, sem discursos, como na grande "Porca Miséria", que foi para mais de um ano em cartaz, surge bem mais rico. Traz os mesmos temas, como cita o programa de "Fim de Papo", de "mediocridade, falta de solidariedade, solidão". Com a vantagem de acreditar que existe saída.
Marcos Caruso, não adianta, faz graça por aberta compaixão. Uma compaixão que não bate com o suposto humor culto, o suposto humor do niilismo absurdo.

Título: Como Encher um Biquíni Selvagem
Autor: Miguel Falabella
Direção: Miguel Falabella
Elenco: Cláudia Gimenez
Quando: Quinta a sábado, às 21h30; domingo, às 20h
Onde: Teatro Jardel Filho (av. Brigadeiro Luíz Antônio, 884, Bela Vista, região central, tel. 35-8433)
Quanto: CR$ 6.500 a CR$ 10.000
Título: Fim de Papo
Autor: Marcos Caruso
Direção: Silnei Siqueira
Elenco: Hedy Siqueira, Paulo Hesse, Cláudia Mello e outros
Quando: Quinta e sexta, às 21h; sábado, às 20h e 22h; domingo, às 19h
Onde: Teatro Maksoud Plaza (al. Campinas, 150, Bela Vista, região central, tel. 253-4411)
Quanto: CR$ 6.000 quinta, CR$ 8.000 sexta e domingo, CR$ 10.000 sábado

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