São Paulo, sábado, 30 de abril de 1994
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O caso Fiuza

Apesar da demora com que os processos têm evoluído, os desdobramentos da CPI do Orçamento vinham ainda preservando entre a opinião pública a impressão de que a exasperante tradição de impunidade do país poderia ser rompida e de que, desta vez, os parlamentares poderiam refletir o anseio crescente por uma moralização política.
Pois essa impressão foi severamente golpeada com a votação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara em favor da absolvição do deputado Ricardo Fiuza (PFL-PE). O mérito técnico da defesa e da acusação à parte, o fato é que a decisão provocou desapontamento e indignação –decisão marcadamente política, nunca é demais lembrar, já que tem lugar no Congresso, não nos tribunais.
Particularmente grave, nesse sentido, é a acusação de que teria havido um acordo político para inocentar Fiuza, em troca da absolvição posterior do deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS). É uma suspeita seríssima que, se confirmada, representaria uma traição imperdoável contra a população e dilapidaria a já diminuta credibilidade de que dispõe a atual legislatura.
Os efeitos da decisão da CCJ extrapolam essa esfera, contudo, e reverberam também no campo eleitoral, em especial no que tange à aliança PSDB-PFL. Não só Fiuza é um dos líderes do PFL como um de seus mais ardorosos defensores foi o deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), até há pouco o mais cotado para vice na chapa de Fernando Henrique Cardoso.
Ainda que outro nome do PFL seja escolhido, a perigosa ligação está feita e já começa a provocar certo mal-estar no PSDB –legenda que sempre se pretendeu preocupada com a ética. São, de todo modo, problemas naturais num acordo que tenta unir partidos tão díspares.
Quanto a Fiuza em si, sua absolvição não é definitiva. Restam a votação no plenário da Câmara, que pode ou não acatar a recomendação da CCJ, e a investigação no âmbito da Justiça –o deputado pode ser denunciado já na semana que vem. Os próximos desdobramentos do megaescândalo serão decerto monitorados com muita atenção, mas desde já é lamentável constatar que a expectativa quanto à punição dos acusados –particularmente os de maior expressão política– diminuiu sensivelmente.

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