São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
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Lula pede trégua a radicais do PT

CARLOS EDUARDO ALVES
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Luiz Inácio Lula da Silva será lançado hoje oficialmente como candidato à Presidência da República preocupado em vencer a imagem de refém de um partido radical.
Na noite de sexta-feira, Lula cumpriu o ritual da pajelança petista: reuniu-se separadamente com todos os grupos do PT e fez um apelo para que o Encontro Nacional do partido não complicasse sua vida de candidato.
"Eu não posso aparecer nos jornais de segunda-feira como derrotado pelos radicais", afirmou Lula a uma delegação de líderes da corrente esquerdista "Opção de Esquerda".
O mote da conversa foi a tentativa de costurar um acordo para a questão da moratória da dívida externa no programa de governo que o petista defenderá na campanha eleitoral.
Na sequência, Lula foi ao espectro petista que mais o incomoda, a extrema esquerda, e não fez o mesmo apelo, por saber que a moratória é um dogma para o grupo. Ponderou, porém, que o programa de governo que seria votado ontem teria que ser "factível".
Um dos pontos de negociação para não radicalizar mais o programa foi a transferência da presidência do partido de Lula para o vice-presidente Rui Falcão. Apesar de já programada, a transferência foi usada na negociação com os ortodoxos.
Lula iniciou o dia ontem comemorando a vitória parcial que obtivera na véspera. Nunca um primeiro dia de convenção petista foi tão tranquilo como a abertura do evento, na sexta-feira.
Tirando algumas pequenas provocações entre as tendências na discussão sobre tática eleitoral, foi visível o esforço em busca do "encontro unitário" que Lula pede às correntes há alguns meses.
Há alguns descontentes em relação ao "acordão" entre os grupos patrocinado por Lula. O deputado federal Eduardo Jorge, da tendência "Democracia Radical" é, no leque ideológico do partido, um dos líderes da ala "direita".
Jorge criticou o "acordo feito na cúpula" depois de anos de ferozes disputas internas. "Esse tipo de acordo exige que haja excluídos".
Trata-se de uma referência ao isolamento, planejado também por Lula, dos grupos de extrema esquerda e "direita" do PT.
A indisposição de Lula com os radicais foi demonstrada na discussão sobre o veto da cúpula nacional do PT à coligação entre o partido e o PSDB na eleição cearense.
"Tudo bem que é difícil apoiar o Tasso. Mas vocês não me venham brincar de eleição", disse, referindo-se aos radicais do Ceará.
Lula, ao provocar os ortodoxos, referia-se ao provável lançamento de uma candidatura fraca do partido no Ceará, o que poderia prejudicar sua campanha presidencial.

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