São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
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Produção cai em volume e qualidade

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

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Produção cai em volume e qualidade
A indústria brasileira passa por um mau momento. Embora tenha havido um expressivo crescimento no ano passado, puxado pelo setor automobilístico, a estrutura industrial do país está errada e atrasada em relação aos melhores padrões internacionais.
São abundantes os indicadores que mostram a perda de qualidade e de volume de produção da indústria brasileira, tanto a de capital nacional quanto a de capital estrangeiro. Alguns exemplo mostram esses problemas.
Númerosa da queda
Em 1984, o Brasil foi responsável por 1,5% das exportações mundiais, seu melhor desemplenho; no ano passado ficou com apenas 0,85% do total;
Em 1985, o Brasil era o 16.º país exportador; em 1992, já caíra para 26.ª posição e deve ter caído mais um pouco no ano passado;
No período de 1965 a 1980, a indústria brasileira cresceu 9,5% no ano, ocupando o quarto lugar entre todos os países em desenvolvimento, atrás apenas de Coréia do Sul, Cingapura e Indonésia.
Nesse período, os países desenvolvidos cresceram na média de 4,6% ao ano, e os em desenvolvimento, 6,5%; o Brasil ganhava posições;
No período seguinte, 1980 a 1992, a indústria brasileira reduziu sua produção total de 6,6%.;
Em 1992, 4,8 milhões de pessoas nas fábricas brasileiras, contra 6,1 milhões em 1987.
Estado e crise
A indústria brasileira cresceu fortemente até os anos 80, conforme diversos projetos nacionais bem sucedidos e com uma característica constante: o apoio do Estado, com investimento direto (através das estatais), financiamentos a juros e correção monetária favorecidos e proteção contra a competição externa, através de barreiras gerais à importação.
Na década de 80, a indústria foi envolvida pela crise geral da economia nacional, atolada na dívida externa, na recessão e na inflação crescente e crônica.
Enquanto isso, outros países foram avançando, até que, em 1990, quando se iniciou a abertura da economia brasileira, no governo Collor, verificou-se que a indústria local, tomada em seu conjunto, não tinha a menor capacidade de competição internacional.
Indústria sem fôlego
Ficou claro que, uma vez resolvida a crise geral – ou seja, eliminada a inflação e retomado o crescimento – a indústria não está preparada para enfrentar um novo ciclo de desenvolvimento.
Primeiro, porque o Estado está quebrado e, mesmo que recomponha suas finanças, vai precisar investir na precaríssima área social. Ou seja, será necessário encontrar novas fontes de financiamento para o setor industrial.
Em segundo lugar, exporta à competição internacional, a indústria brasileira morre. Isso estaria resolvido se fosse possível fechar as fronteiras de novo e barrar as importações. Mas todos os analistas econômicos e políticos concordam que a sociedade não quer o retorno do fechamento.
Depois de terem verificado que até o macarrão brassilerio era muito pior que o importado, as pessoas não se conformarão mais em aceitar o produto inferior só para salvar algumas fábricas.
Ou seja, candidatos presidenciais precisam responder a três questões: qual o grau de abertura desejável? Como financiar novo ciclo industrial? E como garantir competitividade internacional?

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