São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Guerra de gangues ameaça a América

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Oito pessoas foram feridas e um garoto de 15 anos morreu durante um tiroteio dentro de um mercado em Washington em meados do mês passado. Foi o 100º homicídio na cidade este ano.
Dias antes, em Nova York, onze disparos mataram duas pessoas em frente a uma escola no Bronx, bairro de predominância negra e hispânica ao norte Manhattan.
Uma "guerra" com mais de 300 tiros em um condomínio de Chicago na mesma semana matou uma pessoa e feriu outras seis.
Gangues de negros, hispânicos e brancos estiveram por trás desses três episódios. A maioria dos envolvidos tinha menos de 18 anos.
"Há uma guerra tomando conta da América", diz Marian Edelman, do Serviço de Proteção à Criança em Nova York.
Uma mistura explosiva de trabalho escasso e mal remunerado, falta de perspectiva com os estudos, drogas e aglutinação em comunidades (onde alguns sequer falam inglês) é apontada como estopim da violência entre os jovens.
Mais de 22% dos empregos nos EUA são temporários e pagam mal.
A taxa de desemprego entre os jovens de 16 a 25 anos é de 12,5% –contra 6,5% da média da população do país.
Os jovens, inclusive os com formação universitária, são maioria nos trabalhos temporários (com salário inferior a US$ 5 mil ao ano).
Entre os que têm emprego fixo, 47,1% ganham menos de US$ 13 mil por ano, valor 8% abaixo da linha de pobreza (considerando uma família de quatro pessoas).
"O número de jovens abaixo dessa linha dobrou nos últimos 12 anos", diz Jack McNeil, analista do Serviço de Censo americano.
Na área da educação, quem não tem família com recursos está muito longe de conseguir um diploma. Cursar uma universidade privada nos EUA custa, em média, US$ 10 mil e não garante emprego a ninguém, embora o governo financie os estudos a longo prazo.
Sem muito estímulo, adolescentes, a maioria filhos de imigrantes e de negros pobres, têm transformado as proximidades das escolas que frequentam em pontos de encontro de gangues.
As duas mortes no Bronx em Nova York no mês passado, ocorridas em frente à Morris High Schooll, tiveram o envolvimento de duas gangues latinas.
Nesse caso, Paul Robles, 16, morto pelos disparos de um hispânico, fazia parte da gangue Reis Latinos, uma das maiores no Bronx.
O prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, determinou desde meados de abril um policiamento extensivo ao redor de todas as escolas da cidade.
Algumas gangues, como as chinesas e as hispânicas, chegam a praticar crimes contra pessoas de sua própria comunidade. A polícia não sabe dizer quantas gangues existem na cidade.
Um dos casos mais chocantes de operações de gangues em Nova York foi o da gangue Fuk Ching.
Dez membros (todos na faixa dos 20 anos) da Fuk Ching –a gangue mais envolvida, segundo a polícia, na imigração ilegal de chineses para os EUA– foram presos depois de sequestrar, estuprar e marcar com ferros em brasa quatro imigrantes ilegais.
Os raptados eram parentes de comerciantes chineses já estabelecidos em Nova York.

Texto Anterior: Críticos atacam a Lei Brady
Próximo Texto: Estados punem menor infrator
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.