São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
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Café barra herói da libertação do Dia D

The Independent
De Londres

WILL BENNETT

O major John Howard, que se tornou um dos mais conhecidos heróis dos desembarques do Dia D na Normandia, quando liderou a tomada da ponte Pegasus, foi proibido de entrar num café das vizinhanças que ele mesmo libertou.
Seu delito é o de haver discordado da dona do café em relação ao futuro da ponte e depois haver retornado ao estabelecimento –o primeiro lugar na França libertado pelos aliados– na companhia de uma equipe de jornalistas alemães.
Arlette Gondrée-Pritchett, cujos pais dirigiam o café quando este foi capturado pelo major Howard e seus homens, vindos num planador, ficou furiosa, afirmando que sua mãe lhe mandara nunca mais deixar alemães entrarem no estabelecimento.
Ela reduziu o major às lágrimas, depois o acusou de ser senil e desde então o expulsou do local várias vezes. O major Howard foi condecorado com a Ordem de Serviços Eminentes e a Cruz de Guerra, por heroísmo.
Eles já haviam discordado sobre o futuro da antiga ponte, que foi removida no ano passado porque não suportava o peso de caminhões modernos.
A sra. Pritchett quer que seja levada à Inglaterra, mas o major Howard e outros veteranos gostariam que permanecesse na França.
Agora os veteranos das forças aerotransportadas estão ameaçando boicotar o café durante as cerimônias de comemoração do 50º aniversário da invasão, ocorrida no dia 6 de junho de 1944.
Um dos maiores eventos das comemorações será a descida de mil pára-quedistas britânicos, franceses e canadenses na ponte Pegasus.
O incidente agravou os desentendimentos em torno do aniversário do Dia D. Já houve discussões acirradas sobre a participação ou não de alemães no evento e críticas de veteranos aos planos do governo britânico para a ocasião.
O general-de-divisão sir Michael Gray, presidente da Fundação Assalto Aerotransportado da Normandia, disse: "A sra. Pritchett tratou o major com muita descortesia. Isto é muito estúpido e não é o tipo de coisa que os veteranos desejam, num momento como este".
O major Howard, cuja bravura foi imortalizada no filme "The Longest Day", escreveu à sra. Gondrée-Pritchett solicitando um pedido de desculpas, mas ela não respondeu. Ele disse: "Se Arlette deixasse de ser tão intratável, tudo ficaria bem".
Enquanto isso, os veteranos da campanha da Normandia estão confiantes de que venceram sua campanha para riscar do programa os elementos mais frívolos das comemorações previstas para o dia.
Mas após uma reunião com Peter Brooke, secretário de Estado do Patrimônio Histórico Nacional, eles aceitaram que o principal evento, um "dia familiar" previsto para ocorrer em Hyde Park, Londres, em 3 de julho, será realizado, com algumas alterações.
Um acordo final entre as duas principais organizações de veteranos envolvidas e o governo, que sofreu grave constrangimento com os desentendimentos, deve sair de outra reunião marcada para a semana que vem.
Antes disso a Real Legião Britânica e a Associação de Veteranos da Normandia, com 10 mil membros, vão consultar seus associados, alguns dos quais ainda são favoráveis ao cancelamento do programa inteiro planejado pelo Departamento de Patrimônio Histórico Nacional.
Tradução de Clara Allain

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