São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
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Especulação derruba moeda na Venezuela

REGINA CARDEAL
DA REDAÇÃO

A Venezuela afundou numa crise financeira e cambial nos últimos dias. Tropeços do governo colaboraram para aumentar a instabilidade econômica do país.
A renúncia da presidente do Banco Central na terça-feira e o anúncio de um confuso plano econômico no dia seguinte desencadearam uma corrida ao dólar.
Na sexta-feira, a moeda venezuelana teve a maior queda de sua história. A maxidesvalorização do bolívar parecia iminente.
Não era esse o efeito esperado pelo governo do presidente Rafael Caldera quando "detalhou" seu programa econômico na quarta-feira, três meses depois de assumir o poder.
Para começar, um imposto semelhante ao IPMF, sobre cheques e transações eletrônicas nos bancos, que entraria em vigor amanhã foi adiado por uma semana.
O ministro da Fazenda e autor do plano, Julio Sosa Rodriguez, admitiu que não há detalhes exatos para sua aplicação.
O imposto –de 0,75% sobre cheques, a vigorar até o final do ano– é parte da prometida reforma fiscal com que o governo pretende reduzir o déficit orçamentário de 10% para 2% do PIB (Produto Interno Bruto).
Ainda como parte do plano, o ministro da Reforma Econômica, Asdrubal Baptista, anunciou que as estatais PDVSA (Petroleos de Venezuela) e CVG (que controla os setores de alumínio, aço e ferro) seriam abertas "sem limites" ao capital privado nacional e estrangeiro.
A intenção foi confirmar a política liberalizante de Caldera. Mas não ficou claro se o setor de petróleo será privatizado.
A indústria do petróleo é a principal fonte da receita de exportação e responde por quase metade do orçamento do governo.
"Não creio que planejem privatizar a PDVSA ou a CVG", opinou o economista Alexander Guerrero. "Acho que o ministro só quis dar mais confiança aos investidores externos e internos."
O resultado foi o inverso. Cresceu a onda de especulações que já atingia o mercado desde a renúncia de Ruth de Krivoy à presidência do Banco Central.
Krivoy e três diretores deixaram o Banco Central indicando que não concordavam com medidas previstas no plano econômico.
Aparentemente Krivoy, que presidia o Banco Central desde abril de 1992, se opôs a uma proposta de reduzir os juros.
Ela indicou que o plano comprometeria seus esforços para baixar a inflação e manter a moeda estável. O acordo para reduzir os juros teria sido fechado entre o governo e bancos.
Os bancos estão na base da crise financeira que eclodiu em janeiro com a falência do Banco Latino, o segundo maior da Venezuela.
Desde janeiro, o governo gastou US$ 5,9 bilhões para socorrer bancos e evitar o colapso geral do sistema financeiro.
Essa possibilidade pesou sobre o bolívar, que vinha sendo resgatado pelo Banco Central.
Na sexta-feira, o bolívar despencou. O dólar, que no início do pregão em Caracas era negociado em 118,30 bolívares, terminou o dia valendo 123,50 bolívares.
O BC permitiu que o bolívar mergulhasse em queda livre.
Para alguns economistas, o governo não tem mais reservas para socorrer a moeda.

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