São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
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Bolsa reage à perspectiva de reconciliação

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

A Bolsa de Johannesburgo bateu recordes de alta durante a semana.
Esse é o melhor indicador de que, ao menos nas cúpulas política e empresarial, há boa vontade para fazer dar certo uma África do Sul multirracial.
"A mensagem de reconciliação que adotamos criou um ambiente que já é o responsável pelo que aconteceu nos últimos dias", diz Nelson Mandela.
Ele refere-se ao fato de que houve uma extraordinária afluência de eleitores às urnas, apesar dos atentados terroristas, e um ambiente no geral pouco violento.
"Não será fácil combinar as demandas políticas e disponibilidades econômicas, mas há muito boa vontade na comunidade empresarial", afirma Harry Oppenheimer, ex-presidente da Anglo-American, um dos seis grupos que virtualmente dominam a economia.
Saber se a África do Sul se transformará em um exemplo de democracia multirracial ou em uma nova Bósnia depende das respostas à questões sobre suas etnias.
O reino zulu: A Constituição provisória reconhece direitos tradicionais ao rei zulu Goodwill Zuelithini. Mas seu tio, Mangosuthu Buthelezi exige mais. Quer a autonomia para o KwaZulu (território dos zulus, maior etnia negra).
Na prática, é impossível. Os 8,3 milhões de zulus estão espalhados pelo país e não caberiam nos limites do que foi, na velha África do Sul, o território teoricamente autônomo do KwaZulu.
A tribo branca: Editorial do jornal "The Citizen" afirma que "os negros, pelo menos, sabem onde estão indo. São os brancos que tropeçam neste ponto dramático da história do país".
O cidadão comum e os investidores brancos estão assustados. Em 93, subiu 290% a compra das famosas moedinhas de ouro chamadas "kruger rands".
É o típico investimento de quem busca um refúgio fácil de revender, se tudo der certo, ou levar para o exterior, se não der.
Parte dos brancos prega um "Volkstaat" (um Estado só para eles). Mandela acenou com plebiscito sobre a questão.
Se a situação se complicar, o apelo do "Volkstaat" aumentará. Mas dividir o país soará claramente a uma nova Iugoslávia, com todo o sangue decorrente.
(CR)

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