São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
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A aliança entre o PT e Fiuza

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Entre os principais dirigentes do PT há uma comemoração secreta –aliás, secreta e calhorda. Comemora-se clandestinamente a absolvição do deputado Ricardo Fiuza, o que traria prejuízos à aliança PSDB-PFL. É o que se chama de visão curta. Explico melhor.
O PT imagina que fatura com a absolvição de Fiuza porque, em primeiro lugar, sai desgastado o PFL. Lembre-se que, no dia do julgamento, o líder do partido, Luís Eduardo Magalhães (corajosamente, diga-se) se expôs ostensivamente para defender o deputado. Imagina-se, então, que esse desgaste será transferido, em parte, a Fernando Henrique Cardoso. Possível.
Mas existe um perigo ainda maior. O desgaste do Congresso e, por consequência, o desgaste da democracia. Um cristalino sinal desse descrédito pode ser medido pela quantidade de brasileiros que se dispõem a votar branco ou nulo. Isso antes de ouvir qualquer programa.
Essa tendência é ainda mais gigantesca entre os jovens, os caras-pintadas que, no futuro, vão dirigir o país. Em várias prévias realizadas com estudantes de escolas de classe média, a opção por voto nulo e branco está em primeiro lugar, acima de todos os candidatos.
Ontem mesmo, uma prévia foi realizada com 110 alunos de Brasília. Os votos nulos e brancos chegaram a 40%. Depois vieram Lula com 27% e Fernando Henrique, com 25%. Tradução: os estudantes avaliam que a eleição não é capaz de melhorar suas vidas. É um ótimo cenário para que os que defendem uma aventura.
Em essência, o prazer em faturar com o desgaste do Congresso apenas reflete que o PT ainda está longe de apresentar o consenso de que fora da democracia não há salvação.
PS - Por falar em Legislativo, justiça seja feita. A Folha revelou na quinta-feira que os funcionários do Congresso estavam prestes a aprovar uma mamata, incorporando horas extras a seus salários. O benefício significaria um custo de US$ 40 milhões ao contribuinte. Ao tomar conhecimento, o presidente da Câmara, Inocêncio de Oliveira, proibiu imediatamente a jogada.

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