São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
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Desemprego, a pior das epidemias

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Os dados da última "Sinopse Econômica" do BNDES trazem alívio e preocupação. De um lado, eles mostram que, em 1993, o PIB brasileiro cresceu 5% e o salário médio, 6%. De outro, eles revelam que, enquanto o produto industrial cresceu 9%, o emprego no setor diminuiu 2%.
Essa é a síntese da grande tragédia nacional. O Brasil cresce –a despeito de todos os problemas. Mas o emprego não cresce. Ao contrário, a Fiesp nos informa que o emprego industrial decresceu ainda mais nos primeiros meses de 1994.
Essa doença coloca-se como uma pavorosa ameaça para o mundo inteiro. Trata-se de uma pandemia devastadora que se caracteriza pelo crescimento da economia e pela queda do nível de emprego.
De forma epidêmica, ela já toma conta da Europa. Na média, o continente amarga um desemprego de 11%. A Itália e a França têm quase 12%. A Espanha passou dos 20%. Lá, como aqui, tem gente procurando emprego há mais de um ano e não encontrando.
O Grupo dos 7 (países mais ricos), reunido em Detroit (EUA), no mês passado, reconheceu o desemprego como o mais grave problema da humanidade. Os pesquisadores já entraram em campo. Seus estudos mostram que as causas do desemprego atual são múltiplas. Dentre elas, têm destaque a rigidez das leis trabalhistas-previdenciárias e o comportamento dos sindicatos.
No campo da legislação, está claro que leis protecionistas e esquemas previdenciários demasiadamente onerosos inibem a geração de empregos. As empresas submetidas a tais condições são levadas a mecanizar a produção, o que, evidentemente, reduz a oferta de empregos.
No campo sindical, o clima demasiadamente conflitivo entre sindicatos e empresas instiga estas últimas a se mudarem de município, Estado e país –o que também destrói e frustra a criação de empregos.
Isso tudo está levando os países mais avançados a reduzirem a rigidez da legislação e os sindicatos, a se aproximarem das empresas. Um estudo de Malcolm Sawyer, da Universidade de Leeds, recentemente publicado, revela que o fator-chave para o tão necessário aumento da produtividade das empresas é a cooperação entre empregados e empregadores ("Industrial Strategy and Employment in Europe", 1994).
Infelizmente, o Brasil continua fora dessa realidade. A revisão constitucional nem tocou nos capítulos trabalhista e previdenciário. E os sindicatos persistem na sua conduta agressiva em relação à maioria das empresas. Parlamentares e dirigentes sindicais estão longe de se aperceberem da perniciosidade de seu comportamento na difícil tarefa de gerar empregos. Certamente, até o final deste século a robótica deverá estar bem disseminada em nosso país, agravando ainda mais o atual desemprego!
Mas a nossa juventude, certamente, tomará consciência de tudo isso e, no devido tempo, cobrará a responsabilidade de congressistas e sindicalistas pelo desemprego generalizado que ameaça tomar conta desta nação. Assim foi nos outros países. Por que haveremos de ser tão diferentes?

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