São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
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Um casal entre cenas de cinema

STEVE POND

\<FT:"MS Sans Serif",SN\>Kim Basinger e Alec Baldwin em "Uma Loira em Minha Vida"
Crédito Foto: DIVULGAÇÃO
Observações: TRADUÇÃO: SÉRGIO DÁVILA; COM CONTINUAÇÃO
Vinheta/Chapéu: \<FD:"VINHETA-CHAPÉU"\>ENTREVISTA KIM BASINGER E ALEC BALDWIN\</FD:"VINHETA-CHAPÉU"\>
Um casal entre cenas de cinema
Kim Basinger, 41, e Alec Baldwin, 36, se conheceram em 1988, filmaram juntos em 1991, se casaram em 1993. Voltam às telas este ano em "Os Implacáveis", refilmagem do clássico de Sam Peckinpah. O casal mais briguento e charmoso de Hollywood fala de erotismo e amor no cinema e na vida. E diz que filmes são "abortos naturais"
Por Steve Pond*
– Quando vocês decidiram se casar?
Alec Baldwin – Era algo de que falávamos de maneira abstrata. Então, vimos que em agosto de 1993 seria a chance de fazer aquilo decentemente.
Kim Basinger – Ele vinha querendo casar comigo há anos.
– E você sempre dizendo não?
Kim – Não, eu dizia "sim, um dia"
– Como surgiu a idéia de filmar "Os Implacáveis"?
Alec – Walter Hill, o roteirista de "Os Implacáveis" original, me procurou. Ele queria filmar o roteiro que ele escreveu, porque Sam Peckinpah [diretor da versão de 1972] fez muitas mudanças. Mas Kim não queria participar.
Kim – Não. Eu gostei do original, mas não é um filme que privilegie o ator. Então, eu disse para Alec que leria o livro no qual "Os Implacáveis" foi inspirado e se havia algo bom para nós. Eu sabia que seria bom atuar com Alec.
Alec – Na verdade, querida, a primeira pergunta que você me fez foi: "Quanto eles vão me pagar?"
Kim [Rindo] – É verdade.
Alec – Você nem quis saber se eu trabalharia ou não...
Kim – Não, isso é mentira!
– Foi difícil para vocês se agredirem física e emocionalmente em cena e depois irem juntos para casa?
Kim – Fora de cena, nos mudamos para um hotel e levamos nosso dia-a-dia. Mas, uma vez no set, ele tinha o seu trailer e eu, o meu. Antes das cenas mais pesadas, ele vinha ao meu trailer e dizia...
Alec – "É só um filme".
Kim – "Eu te amo, é só um filme".
Alec – Então eu entrava em cena e tinha de odiá-la.
Kim – Então ele me odiava e eu odiava também...
– As pessoas tratam vocês como casal ou indivíduos?
Alec – Bem, durante as filmagens, se alguém queria que Kim filmasse até tarde, vinha até mim e perguntava: "Você acha que Kim vai se incomodar? " E eu dizia: "Por que não pergunta a ela? Não posso responder por ela."
– É melhor fazer cenas eróticas com o parceiro real?
Kim – É muito difícil fazê-las, não importa com quem. Quando é com alguém que você se relaciona, é mais tranquilo, claro. Mas não é algo que se pense na hora.
Alec – Aconteceu algo inesquecível em "Uma Loira em Minha Vida". Os caras da produção vinham ao meu trailer e diziam: "Queremos que Kim apareça só de lingerie. Um pouco mais de nudez faria muito bem ao filme". Eu pensava: "Esse filme é tão ruim que qualquer coisa pode melhorá-lo".
– Houve rumores sobre o, digamos, realismo dessas cenas.
Alec – Acho que se referiam a como fomos cooperativos.
Kim – A propósito: não. Aquela era a vida dos personagens e o jeito que eles faziam aquilo, ok? Não eram Kim e Alec.
Alec – Kim é mestra em iludir. Você ouve o burburinho sobre "9 e Meia Semanas de Amor" ser tão explícito...
Kim – E sobre como eu fiquei totalmente nua o tempo todo. Assista ao filme de novo: você não vai me ver completamente nua a não ser em uma cena, no final do strip tease. E por trás... Está tudo na cabeça. Como quando eu conheci Alec. Jurava que ele usava um chapéu de caubói.
Alec – Nunca usei um chapéu daqueles na vida! Nasci em Lono Island. O que um chapéu de caubói estaria fazendo ali?
– Quando foi isso?
Kim – Eu estava fazendo "Minha Noiva é uma Extraterrestre [1988], Alec chegou ao set eu me lembro de um chapéu de caubói. Eu pensei: [cansada] "Ah, mais um ator".
– Em "Uma Loria em Minha Vida" [1991] vocês ganharam a fama de intratáveis.
Alec – Essa fama não corresponde à verdade. Se eu soubesse na época o que sei agora, teria simplesmente feito o que me mandavam, pego meu dinheiro e ido para casa.
Kim – Nós queríamos fazer um bom filme.
Alec – Eu trabalho nesse ramo tempo suficiente para saber que há histórias horríveis. Hoje se fala de chefões de estúdios envolvidos com prostitutas... Cinema é uma máquina grande. A imprensa, os filmes, os estúdios.
– Isso mudou a sua maneira de encarar a carreira?
Alec – Meu entusiasmo diminuiu. Hoje, fazer filmes não é minha razão de viver. Filmes são como abortos naturais. Os meses passam e você fica esperando por eles e há muita especulação. E, se o filme é ruim, o ator é ruim. Mesmo que você não tenha qualquer controle sobre o produto final. Isso aconteceu em cada filme que trabalhei antes de "Os Implacáveis". Eu não sabia nada e eles não representaram nada para mim. Não era eu, era eu aprendendo.
– Os problemas com "Encaixotando Helena?" são passado?
Kim – É um pesadelo. Não acabou.
Alec – Você quer a verdade? Essas coisas são passado. O filme estreou e não houve um crítico que não começasse seu texto assim: "Não fazer este filme foi o dinhero mais bem gasto por Kim Basinger". O filme está longe de ser uma maravilha. Aconteceu que o poderoso escritório de advocacia da acusação chegou pra gente e disse: "Agora, vocês estão realmente fodidos".
Kim – Os fatos reais não foram julgados. Os jurados nada sabiam sobre o caso. Só conheciam a imagem da atriz.
– Mas eles viram você testemunhando na Corte.
Kim – Mas já estavam com uma idéia pré-concebida.
Alec – A advogada de acusação disse no primeiro dia, no argumento inicial: "Todos nós sabemos o que é ser a menina mais bonita da escola, que sempre consegue o que quer". O resultado final é que eles venceram. Sempre quis ser um advogado. Depois disso, oh, boy, sou feliz por não ter sido.
– Todos esses problemas mudaram vocês?
Alec – Sim. Não trabalho com ninguém com quem não vá me divertir. É a minha vida. Eu fiz dois filmes em 20 meses, "Os Implacáveis" e "The Sadow", e man, eu estou...
Kim – Frito. Ele está frito.
Alec – Eu quero viver, eu quero não fazer nada.
Kim – [Rindo] - Ele é Susan Hayward: "Eu quero viver!"
Alec – De manhã, eu digo: "Não quero sair da cama".
Kim – Ele diz: "Só quero ir à praia, fazer canoagem, passear... Quero viver!" E eu digo: "Cale a boca!"
Alec – Ela diz: "Cale a boca. Vá trabalhar. Ganhe dinheiro. Entre no carro e vá direto para a Universal." E essa é a melhor coisa entre nós. Ela me faz prosseguir.

* LOS ANGELES TIMES SYNDICATE INTERNATIONAL/TRADUÇÃO SÉRGIO DÁVILA

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