São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
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SporTV opta pelo óbvio em suas transmissões de futebol

MURILO GABRIELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Transmissões de futebol pela TV são naturalmente redundantes. A magia do rádio –que provoca a imaginação do ouvinte, fazendo-o sonhar com os lances descritos aos berros pelos locutores– desaparece diante da certeza das imagens. Resta à TV narrar o óbvio –ou fugir dele.
As transmissões de futebol do SporTV –canal esportivo da Globosat, distribuído pelo sistema Net Brasil– são o paradigma desta redundância. Se têm a vantagem de mostrar a seus assinantes, com exclusividade e ao vivo, partidas não-transmitidas pela TV regular, pecam pela pobreza de informação –e pela total submissão à imagem.
São muitas as formas de fugir à obviedade –infelizmente, quase nenhuma aproveitada pelo SporTV. Há os telenarradores que apostam na sedução do público pela emoção –como Luciano do Valle e Galvão Bueno. Se são irritantes seus arroubos de pieguice e ufanismo, é ingável sua empatia com os espectadores.
Já os narradores da emissora por assinatura primam pelo anonimato: Sérgio Maurício nas transmissões de jogos paulistas, Luis Carlos Júnior e Maurício Torres nos campeonatos carioca, espanhol e italiano. Fica difícil lembrar após uma partida quem era o indivíduo que falou uma hora e meia ao nosso ouvido.
Essa anodinia explicita os erros dos narradores. A situação é agravada, nas transmissões do futebol paulista, pelo fato dos narradores estarem "off tube" –isto é, não no estádio, mas em um estúdio. Guiam-nos, apenas, as imagens –e seu desconhecimento dos jogadores paulistas.
Este "lapso" poderia ser consertado com uma boa reportagem de campo –que inexiste nas transmissões do canal. Sem repórteres –e servidos por imagens indigentes–, os pobres narradores vão ao desespero tentando identificar os alvos de cartões amarelos e os jogadores contundidos. Chegam a perder substituições.
A última possibilidade de redenção estaria nas mãos do comentarista. Nas transmissões dos campeonatos espEnhol e carioca, a emissora aposta no charme dos veteranos Hans Henningesen (ou "marinheiro sueco", como o chamava Nelson Rodrigues na lendária mesa-redonda "Resenha Facit") e Sérgio Cabral. Ao futebol paulista, restam os comentários do ex-goleiro Raul Plassman –titular das transmissões de jogos da seleção na Globo–, que soma ao desconhecimento do futebol paulista uma notável habilidade para não dizer nada de novo.

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