São Paulo, segunda-feira, 2 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EVAN DANDO & JULIANA HATFIELD

DA "SPIN"

O líder do Lemonheads, Evan Dando, e a cantora Juliana Hatfield contam como eram antes da fama. Os dois moraram na mesma casa e tocaram na mesma banda, a Blake Babies. Neste bate-papo, Juliana pede Dando em namoro e os dois falam de seus problemas.

Começo de carreira
Evan Dando – Você se lembra da primeira turnê dos Blake Babies? Todos os shows eram patéticos. Quase sem público.
Só dois amigos nos assistiam e duas pessoas transavam no fundão em cima de um banco.
Juliana Hatfield – Foi triste.
Dando – Foi engraçado (ri). Você ainda tem a gravação?
Hatfield – Acho que sim. Você ficava falando toda hora "Vamos ter uma festa rock'n'roll esta noite" (Dando ri).
Dando – Porque era uma piada mesmo. Era divertido. E não tinha ninguém lá, porque o Vixen estava tocando ali perto. O Vixen roubou nossa platéia inteira.
Domingo
Dando - Adoro turnê. Eu vivo para as turnês e conhecer o mundo.
Hatfield - Eu adoro também. Mas às vezes você não sente que precisa de outra coisa? Vai ficar em turnê para sempre?
Dando - Não, eu tenho um grande desafio: fazer tantas turnês quanto eu tiver vontade e fazer outro disco. Talvez eu esteja perdendo alguma coisa na vida.
Hatfield – Bem, eu estou.
Dando - Quem sabe você está mesmo. Um namorado, quem sabe. Eu não tenho namorada (ri).
Hatfield - Quer ser meu namorado? Há duas semanas eu estava em turnê e achava que isso de estar numa banda era tudo. Agora sinto que falta alguma coisa.
Dando – Eu sei como é. É aquela sensação oca e ruim. Tipo deprê de domingo. Domingo à noite –aquela sensação de ter que voltar para escola no dia seguinte?
Hatfield - Domingo é uma merda.
Vícios
Dando - Eu passei por muita coisa superdura nesses anos todos.
Hatfield - Antes você dava a impressão de estar muito mais deprimido, mais vezes.
Dando - Você acha mesmo? Hoje você nunca me vê, Juliana. Você está ficando com uma visão muito impressionista de mim.
Hatfield - Antigamente você tinha umas depressões bravas e agora não vejo isso em você. Você ainda fica daquele jeito?
Dando - Fico. Não... Tipo uma vez por mês. Sabe como é.
Hatfield - Está tão ruim quanto antigamente?
Dando - Hum... está. Eu não consigo nem me mexer. Mas acho que tem a ver com drogas. Pode ter sido isso. Faz um mês que estou longe delas, e parei de ficar deprê.
Hatfield - Eu tenho umas variações de humor poderosas. Achei que se parasse de comer açúcar isso ia parar, mas não parou.
Dando - Quando eu te conheci, você era ligadona em sorvete.
Hatfield - Eu tinha um vício sério em sorvete, grave mesmo.
Dando - Eu lembro, você era capaz de traçar quase quatro litros de sorvete de uma só vez.
Hatfield - Dois litros. Comia mais que qualquer pessoa.
Críticas
Dando - Juliana, outro dia eu estava pensando se colocava o nome de dois jornalistas que nos esculacharam com nossa lista de agradecimentos por nosso disco. Quando a imprensa nos arrasa, não faz diferença, na realidade.
Hatfield - Acho que você nem devia se dar ao trabalho de botar o nome deles. Vou parar de ler o que escrevem sobre mim.
Dando - É isso aí. Também pensei nisso outro dia.
Hatfield – É mesmo? Você?
Dando - Eu. E aí, você vai ler este artigo? (dá risada)
Hatfield - Vou olhar as fotos.
Dando - Tá legal (ri).
Hatfield - As coisas que escrevem poluem a beleza da música. Eles entendem tudo errado e enxergam mil coisas estranhas. Simplesmente a estragam.
Lar, doce, lar
Hatfield - Um dia eu quero ter uma casa com um quarto vazio, só para quebrar coisas lá dentro. Quando a gente vivia junto, quebrávamos coisas.
Dando - Era um jogo, chamado "Purgações Arriscadas".
Hatfield - E a gente se sentia superbem.
Dando - Coisas que a gente achava que talvez fosse querer depois, tipo o telefone...
Hatfield - Ou equipamentos elétricos que não funcionassem direito. Eu fico pê da vida quando eles não funcionam direito.
Dando - Mais com telefones.
Hatfield - Você paga US$ 200 por um walkman e ele pifa. As máquinas não deveriam quebrar.
Dando - Você é louca, Juliana.
Hatfield - Mas por que as máquinas quebram? Odeio isso!

Tradução de Clara Allain.

Texto Anterior: FACULDADES QUE INSCREVEM PARA EXAMES NO MEIO DO ANO
Próximo Texto: Esse papo de "gangsta rap" não só é burro como infantil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.