São Paulo, segunda-feira, 2 de maio de 1994
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Novo filme de Gus Van Sant exalta a viagem

`Even the Cowgirls...' estréia em 20 de maio nos EUA

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O diretor Gus Van Sant acha que a liberdade sexual não é mais um problema importante nos dias de hoje. O problema atual, diz, é ter liberdade no estilo de vida.
"As pessoas ainda precisam lutar para encontrar um espaço onde possam se sentir a vontade", disse em entrevista sábado em Nova York para promover seu novo filme, "Até as Vaqueiras Ficam Tristes" (Even the Cowgirls Get the Blues), que estréia em 20 de maio nos EUA.
Van Sant, de cabelos despenteados e barba por fazer, agiu como pensa. Tirou os sapatos, bebeu água Perrier no gargalo e fumou vários cigarros sem notar o sinal pedindo o favor de não fumar. Falou baixo o tempo todo. Parecia estar com a cabeça nas nuvens.

Folha - Em quase todos os seus trabalhos há uma forte ligação com estradas e viagens. É um fascínio?
Gus Van Sant - Viajei muito quando criança e na minha juventude, por todos os lugares, o tempo todo. Isso tem um reflexo muito grande em meu trabalho. Li também vários livros da geração "beatnik" (que exaltava a liberdade das estradas), mas acho que a influência vem da experiência.
Folha - Como é a sua relação com o escritor William Burroughs?
Van Sant - Em 1975, quando estudava arte em Nova York, eu lia alguns de seus livros e achei que seria ótimo falar com esse sujeito. Procurei seu nome no catálogo e telefonei. Nos conhecemos assim. Recentemente nos encontramos em Kansas. Ele olhava pela janela e ficava dizendo: "O dia está muito cinza. Odeio dias assim".
Folha - Como surgiu a idéia de filmar o livro de Robbins?
Van Sant - Gostei muito logo na primeira vez que li o livro. Foi o primeiro romance "hippie" que apareceu nos EUA e aquilo não era um assunto qualquer para mim. Era um assunto muito sério. O livro quebrava as regras. Não só era o primeiro livro "hippie" como tinha mulheres no comando.
Folha - Como a irmã de River Phoenix, Rain, foi escolhida para o papel de Jellybean?
Van Sant - Conheci Rain durante as filmagens de "Garotos de Programa", quando apareceu para visitar o irmão. Ela simplesmente veio à minha cabeça quando pensava em alguém para o papel de Jellybean. Ela tem uma combinação difícil de encontrar. É muito dura, meiga e bonita.
Folha - Qual a sua opinião sobre a morte de River Phoenix?
Van Sant - Foi muito triste tê-lo visto partir. Ele não era um Peter Pan, um ator cheio de responsabilidades ou uma pessoa que se drogava muito em segredo, como muitas pessoas sugeriram. O que aconteceu foi apenas uma grande fatalidade.
Folha - Os heróis de seus filmes são sempre rejeitados de alguma forma pela sociedade. Qual a intenção?
Van Sant - São apenas personagens que encaram o mundo de maneiras diferentes, de um ponto de vista diferente do da maioria. É só isso. Comercialmente isso pode não ser bom, mas é assim que as coisas são.

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