São Paulo, segunda-feira, 2 de maio de 1994
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Eleição propicia bipartidarismo de fato

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

O Congresso Nacional Africano e o Partido Nacional foram os mais acérrimos inimigos por 76 anos, desde a fundação do PN em 1914, dois anos após a criação do CNA.
Em 1990, no entanto, tornaram-se, os principais parceiros na transição do apartheid para o multirracialismo, quando o presidente De Klerk libertou Mandela.
Por isso, os dois ganharam o Prêmio Nobel da Paz. Agora, deverão conviver juntos no novo governo, em uma África do Sul virtualmente bipartidária.
O CNA e o Partido Nacional, somados, obtinham, até ontem à noite, quase 87% dos votos apurados, o que lhes dá virtual monopólio político.
Para começar, só o CNA e o PN ganharam o direito de fazer parte do governo de unidade nacional, por terem sido os únicos a superar os 5% dos votos.
Mas, em mais uma evidência de sua moderação, o CNA está sinalizando que vai convocar pelo menos dois outros partidos a fazer parte do governo. Exatamente os seus dois maiores inimigos.
"Estamos decididos a formar um governo o mais abrangente possível. Não excluímos a possibilidade de que o Inkatha faça parte do governo, mesmo que não atinja a porcentagem requerida", disse Pallo Jordan, chefe do Departamento de Informação do CNA.
O Inkatha Partido da Liberdade representa uma fatia dos zulus (maior etnia sul-africana) e manteve constantes e cruentos conflitos com o CNA, cuja cúpula é basicamente xhosa.
A frase de Jordan vale também, como ele deixou claro, para a Frente da Liberdade, único grupo da extrema-direita branca que decidiu participar da eleição.
A Frente é liderada pelo general Constand Viljoen, ex-chefe das Forças de Defesa, e quer travar na nova Assembléia Nacional a batalha pela constituição de um "Volkstaat", um Estado para a minoria branca.
A moderação do CNA, explícita durante a campanha, tende a se acentuar com os resultados.
Os 2/3 esperados foram descartados por Pallo Jordan antes mesmo de a contagem de votos chegar a 20% do total. "Projetamos uma maioria de 58%, talvez 60%", disse o chefe de Informação da coligação vitoriosa.
O CNA perdeu as eleições em duas das nove províncias: Cabo Ocidental, de maioria branca e mestiça e que votou no Partido Nacional, e KwaZulu/Natal, onde vive a maioria dos 8,3 milhões de zulus. Nesta última, o Inkatha venceu com 63% dos votos.
(CR)

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