São Paulo, segunda-feira, 2 de maio de 1994
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A morte de Senna

Acidentes acontecem. E qualquer piloto que se submeta a entrar na carlinga de um carro de Fórmula 1 e sair correndo a mais de 300 km/h está consciente dos riscos que corre. Ainda assim, o violento desastre que custou a vida de Ayrton Senna foi pressagiado por uma série de acontecimentos que sugerem muito mais do que mera fatalidade.
Com efeito, as 72 horas que precederam a morte de Senna foram sem dúvida as mais sangrentas da história da F-1. Nos treinos da última sexta-feira, Rubens Barrichello escapou por muito pouco de destino semelhante ao do tricampeão. No sábado, foi a vez de o piloto austríaco Roland Ratzenberger encontrar a morte. Ontem...
Até este fim-de-semana, o último acidente fatal num GP de F-1 datava de 82. Não foi portanto à toa que muitos corredores questionaram seriamente as novas regras para o esporte estabelecidas pela FIA.
De fato, a federação –que vinha perdendo para outras categorias fãs, patrocinadores e pilotos, ou seja, lucros– baixou para esta temporada uma série de regulamentações que visavam a aumentar a competitividade do esporte, mas parecem ter também tornado as corridas menos seguras.
A proibição da suspensão eletrônica é, talvez, o exemplo mais eloquente dessas inovações. É bem verdade que os investimentos necessários para a pesquisa e desenvolvimento de toda a alta tecnologia utilizada nos carros favoreciam imensamente as equipes mais ricas, transformando o circo da F-1 num leilão. A supremacia do desempenho da Williams na temporada passada basta para provar a tese.
Ainda assim, é preciso considerar que a F-1 é mais do que um simples esporte. Em suas pistas são desenvolvidas e testadas algumas das tecnologias e sistemas de segurança que equiparão os carros comerciais de amanhã. Nesse sentido, limitar uma iniciativa que impeça ou reduza pesquisas que tornem os veículos mais seguros é um desserviço a todos os usuários de automóveis.
O fato é que, num misto de fatalidade e de descaso da parte dos cartolas da F-1, o mundo perdeu um de seus maiores pilotos e o Brasil, seu maior ídolo internacional.

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