São Paulo, segunda-feira, 2 de maio de 1994
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Casamento gay

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

SÃO PAULO – Entre os palpitantes temas que ocupam o variadíssimo noticiário dos jornais brasileiros, o do casamento entre homossexuais vem obtendo mais e mais espaço. Seu primeiro momento de brilho aconteceu através do PT.
As seitas mais ousadas do partido –que agora discute seu programa definitivo para a Presidência– quase provocaram o fim do casto casamento entre PT e Igreja ao propor que Lula defendesse em sua campanha a legalização do matrimônio gay.
Sim, porque o clero, como se sabe, já impedido de ter maus pensamentos em relação a mulheres, não pode nem imaginar o que venha a ser um encontro carnal entre pessoas do mesmo sexo. O fato inexiste na Igreja.
Lula, que como se sabe também, é contra hipocrisias, achou melhor excluir o assunto da pauta de preocupações do seu partido. Encontrou-se com o presidente da CNBB, Luciano Mendes de Almeida, e tranquilizou a progressista instituição. Nem gay nem aborto. O PT está fora disso.
Mas, preservada a compostura moral do proletariado e do clero, nem por isso a discussão desapareceu. Uma simpática dupla de noivos tem mobilizado o Rio de Janeiro com o anúncio de suas núpcias. Os rapazes conseguiram até mesmo colocar seus nomes numa lista para presentes de um conhecido magazine. E o pastor Onal Alves Pereira, de uma certa Igreja da Irmandade, anuncia que fará o "casamento" de dez homossexuais em Salvador.
A cultura gay é hoje um fato incontornável. Deixou o gueto para influenciar comportamentos, vocabulários, hábitos e atitudes da chamada sociedade heterossexual. E o casamento gay, na prática, já é um fato aceito com tranquilidade em diversos círculos da sociedade brasileira.
A questão, então, é a seguinte: excetuando-se a necessidade de se solucionar legalmente os problemas relativos a bens e direitos do casal, não será excessivamente ordeira e conservadora a reivindicação de um apadrinhamento do Estado e da Igreja para um ato que só depende do desejo de duas pessoas? Eu digo sim.

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