São Paulo, terça-feira, 3 de maio de 1994
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Uma visão otimista da laranja

JOSÉ GOMES DA SILVA

A citricultura paulista é, sem sombra de dúvida, o setor mais dinâmico da agroindústria nacional e o suco cítrico tem sido certamente nossa melhor "commodity". Isso não significa, contudo, que não tenha sofrido tropeços nessa trajetória de sucesso e que o túnel do futuro esteja livre e desimpedido. O objetivo deste artigo é refletir um pouco a respeito dessa experiência pregressa como elemento sinalizador do futuro do setor. Nesse contexto, a safra que se avizinha apresenta-se como excepcionalmente estratégica em razão de diversas circunstâncias.
Depois de um período de euforia, os preços da laranja e do suco despencaram, entrando no vermelho e levando grande número de produtores ao desespero.
Os pomares estão sendo afetados por diversas pragas e moléstias, algumas ainda sem diagnóstico e tratamento definidos, o que sinaliza uma situação de incerteza semelhante àquela que ocorreu com o aparecimento da "tristeza".
Nossos concorrentes no exterior se organizaram em termos de novos plantios (sul da Flórida, México, Cuba) e de mercados regionais fortemente protegidos (Nafta).
A estagnação atual, que afeta também a economia do Primeiro Mundo, não oferece boas perspectivas de aumento do consumo de suco entre os compradores tradicionais.
Nesse cenário aparentemente dramático, dois simples argumentos derrubam todo esse pessimismo. Por que o segmento elitizado (e supostamente bem-informado) continua plantando laranja e construindo novas fábricas?
Toda a história da agricultura brasileira mostra a existência de um certo poder tampão ("buffer") que amortece os choques, fazendo com que quedas e subidas não se façam de maneira drástica.
No caso da substituição de culturas, por exemplo, a agricultura paulista já está trocando pomares –que já não são mais vistos como minas de ouro– por plantações de cana, grãos (sobretudo soja) e agora, mais recentemente, por plantios de café adensado, nas regiões onde existem condições e tradição cafeeira.
A tabela abaixo mostra que esse poder tampão já está rebaixando a safra vindoura (94/95) do patamar de 346,3 milhões de caixas alcançado no período entre 1988/89 e 1991/92 para apenas 285 milhões na nova safra que se avizinha.
Essa redução diminuirá o "carry-over" de suco e seus altos custos da armazenagem a frio e excitará o mercado numa disputa de matéria-prima, sobretudo por parte das novas indústrias que estão iniciando suas atividades. Teoricamente, essa situação deveria beneficiar o citricultor, pelo menos aqueles que não estão presos a contratos plurianuais.
Em resumo, nossa visão de agricultor continua a ser otimista. Oxalá, as duas partes que têm se enfrentado no passado –indústrias e agricultores– tenham juízo e procedam com a cautela e o despreendimento próprios de tempos bicudos que tendem a melhorar.

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