São Paulo, terça-feira, 3 de maio de 1994
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Inflação espiral

Para todos os brasileiros, os salários recebidos nesse início de maio virão, pela segunda vez, corrigidos pela URV. Mas a URV é o resultado de uma média de três índices (IGP-M da FGV-RJ, IPCA-E do IBGE e IPC da Fipe-USP). E em abril o IGP-M da FGV-RJ, com dados coletados apenas no Rio de Janeiro, ficou em 40,91%, contribuindo para puxar a URV do mês para 42,6%. Ou seja, um trabalhador em São Paulo, onde pela Fipe a inflação ruma para os 46% ao mês, terá seu salário corrigido por menos de 43%.
A alimentação fora do domicílio, por exemplo, aumentou em abril segundo a Fipe nada menos que 51,19% na terceira quadrissemana. Nos últimos 30 dias, nos supermercados os preços subiram 54%, segundo o Datafolha. Foram altas significativas desde o início da URV.
Resta saber se os preços ficarão estáveis no futuro. Há sinais de que a alta da inflação deve prosseguir. Um deles é o vigor do comércio em março, cujas vendas foram as maiores dos últimos quatro anos. A continuar esse movimento, a reposição de estoques poderá pressionar novamente o atacado antes mesmo da entrada em vigor da nova moeda.
Fica-se portanto diante de um paradoxo. De um lado, o índice de preços ao consumidor registra altas aceleradas nos mercados paulistanos que não são integralmente repassadas aos salários. De outro, nesses mesmos mercados percebe-se um aquecimento das vendas.
Com seus salários urvizados, mas conscientes de que não estão totalmente protegidos contra a alta inflacionária, os consumidores antecipam compras. Essa pressão de consumo, por seu lado, cria espaço para mais inflação. A espiral preços-salários, portanto, continua impedindo a estabilização da inflação e a moderação do consumo.
O paradoxo desaparecerá apenas quando se extinguir a própria URV. Isto é, quando afinal acabar a correção automática de preços e salários e se todos, empresas e consumidores, aprenderem a viver com os olhos postos na economia real.

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