São Paulo, quarta-feira, 4 de maio de 1994
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`O sangue corria de seu nariz e de sua boca'

RICARDO SETYON
DE BOLONHA, ESPECIAL PARA A FOLHA

"Tenho 40 anos e sou o chefe da UTI e da divisão de primeiros socorros da região de Bolonha. Faz muito tempo que não via uma fragmentação craniana tão impressionante."
Gordinni foi o primeiro médico a socorrer Senna e também o único que seguiu o piloto no helicóptero e no hospital.
As edições extraordinárias de telejornais de domingo trazem a sua imagem em ação ao lado da maca.
"Nunca pensei encontrar um quadro clínico tão grave. Em mais de dez anos de automobilismo, não tinha visto um acidente assim. Tentamos manter a frieza, mas o estado do crânio de Senna indicava sinais de múltiplas fraturas e fortes hemorragias", disse à Folha.
"O sangue de Senna corria de seu nariz e de sua boca. Quando tiramos os tampões das orelhas houve um enorme fluxo de sangue. O golpe foi gigantesco e frontal. Não há capacete que proteja a cabeça de um piloto em um golpe a quase 300 km/h."
"Enquanto fazíamos a passagem da maca para o helicóptero, Senna demonstrava sinais gravíssimos de hemorragia e dificuldades na respiração. Decidimos fazer uma minitraqueotomia e obtivemos bons resultados."
"Com massagens cardíacas e todo o moderno equipamento do helicóptero, tínhamos alguma esperança em fazer uma intervenção cirúrgica e conseguir algum resultado."
Com grande emoção e longas pausas, Gordinni, entre várias explicações médicas, se disse chocado e revoltado: "Entre os minutos que se passavam, éramos 12 médicos especialistas fazendo de tudo para salvar a vida de um homem que havíamos visto estar preocupado com todos os acidentes anteriores".
"Mas as fraturas eram muitas e muito profundas. É difícil explicar o quanto o cérebro de Senna tinha sido afetado, levando em consideração que a cabeça do piloto estava aberta em vários pontos", disse.
"Estava com o coração batendo, mas sem quase nenhuma atividade cerebral. Decidimo então cancelar a cirurgia e tentar de tudo para reverter a situação."
Por fim diz: "O meu sentimento como médico é de um profissional que sofreu uma grande derrota. Como ser humano culpo todo o esquema pela morte de dois pilotos. Esses erros têm que ser pagos por alguém".
(RSt)

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