São Paulo, quinta-feira, 5 de maio de 1994
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Talidomida é distribuída sem bula em BH

AMAURY RIBEIRO JR
DA AGÊNCIA FOLHA EM BELO HORIZONTE

A talidomida, droga usada no tratamento de pacientes com hanseníase, está sendo distribuída sem bula em postos do Sistema Único de Saúde.
A droga foi responsável na década de 60 pelo nascimento de cerca de 12 mil crianças deformadas em todo o mundo. Ela era usada pelas gestantes como calmante.
O uso da talidomida levou há 15 dias a empregada doméstica Luciene das Dores a gerar um filho sem pernas e braços no hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte.
Na embalagem dos comprimidos há um aviso de que o medicamento é prejudicial a gestantes. A advertência é feita por escrito e com um desenho.
Para Maria Aparecida de Farias Grossi, coordenadora do Estado de Minas Gerais para o controle da hanseníase, a embalagem do produto deveria ser melhorada.
Ela disse que a droga deve ser distribuída somente por farmacêuticos com formação superior.
"Nem sempre há nos postos de saúde um especialista para explicar para o paciente que ele não pode deixar sua mulher ingerir a droga", declarou Grossi.
A venda da talidomida em farmácias foi proibida na década de 60 pelo Ministério da Saúde. O uso da droga não é permitido para mulheres em período fértil.
A Funed (Fundação Ezequiel Dias), em Belo Horizonte, é o único laboratório que produz atualmente a droga em todo o mundo, segundo sua direção.
O assessor de imprensa da Funed, Paulo Marinho, disse que somente agora o laboratório começa a elaborar a bula.
"Houve reclamações de profissionais porque a droga é muito prejudicial a gestantes", afirmou.
Marinho disse que a distribuição e o controle da droga é de responsabilidade da Central de Medicamentos (Ceme), órgão federal.
"A Funed apenas produz o produto sob encomenda da Ceme", declarou Marinho.
Somente em Minas Gerais, foram distribuídos cerca de um milhão de comprimidos no ano passado, segundo a coordenadora Grossi.
O novo caso de uma vítima da talidomida reacendeu a discussão sobre a utilização da droga.
A doméstica Luciene disse ter ingerido 15 comprimidos do marido que sofre de hanseníase. "Tomei porque uma amiga disse que a droga curava enjôos", afirmou.

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