São Paulo, quinta-feira, 5 de maio de 1994
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Mulheres esterilizadas se protegem menos da Aids, diz especialista

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As mulheres esterilizadas –que ligaram as trompas para não ter filhos– tendem a acreditar que não precisam de outros cuidados para evitar a Aids e as doenças sexualmente transmissíveis.
Este equívoco –reforçado pelos serviços de Saúde– vem apressando o rápido crescimento da Aids entre as mulheres. No Brasil, 32% delas em idade reprodutiva estão esterilizadas.
O alerta foi feito por Elza Berquó, diretora do Núcleo de Estudos de População da Unicamp e do Cebrap –Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.
Elza participou do seminário sobre "Cidadania e Aids" realizado na segunda-feira em São Paulo pela Comissão de Cidadania e Reprodução, da qual faz parte.
Um dos temas tratados foi a "feminização" e a "pauperização" da Aids nas grandes cidades brasileiras.
Estudos estão constatando que a doença vem se espalhando mais rapidamente entre as mulheres dos bairros da periferia.
Segundo a psicóloga Edna Roland, do Instituto da Mulher Negra e membro da comissão de cidadania, as mulheres representam 25% dos doentes nos bairros mais pobres, como Brasilândia (zona norte) e Vila Matilde (zona leste).
Nas áreas centrais, a porcentagem de mulheres entre os casos notificados cai para 13%.
No Estado de São Paulo, ao longo do ano passado, a relação de mulheres doentes era de uma para quatro homens.
"Estamos nos aproximando do modelo africano, onde o número de homens e mulheres com Aids é o mesmo do de mulheres", disse a médica Regina Maria Barbosa, pesquisadora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
A médica Ana Carolina Isler Ferreira, da Secretaria de Estado da Saúde, disse que desde 91 a Aids vem se espalhando mais rapidamente entre as populações pobres. Neste avanço, as mulheres estão sendo as mais atingidas.
Além de vítimas da doença, elas são sobrecarregadas como companheiras, mães e irmãs dos doentes masculinos da família.
Margareth Arilha, do conselho diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução, disse que em junho um seminário tratará dos direitos reprodutivos e população.
"O objetivo é a conferência sobre População e Desenvolvimento promovida pela ONU em setembro, no Cairo", diz Margareth.

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