São Paulo, quinta-feira, 5 de maio de 1994
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Paz

Por mais desgastado que possa parecer o epíteto de histórico, há alguns acontecimentos que não podem ser qualificados de outra forma. É o caso das primeiras eleições livres da África do Sul –que enterraram definitivamente o odioso regime racista do apartheid– e, agora, do acordo assinado ontem entre Israel e a OLP (Organização para a Libertação da Palestina). O tratado acena com o fim de um conflito sangrento que fez do Oriente Médio uma das regiões mais conturbadas do planeta por mais de 40 anos.
Não será fácil, decerto, superar o rancor e a animosidade acumulados em quase meio século, e os protestos de minorias radicais tanto israelenses como palestinas contra o acordo já sugerem os desafios que ainda terão de ser enfrentados. A própria dificuldade das negociações, que duraram quase oito meses e foram concluídas só na própria cerimônia de assinatura, ontem, sob os olhares tensos de toda a imprensa mundial, veio ressaltar a permanência dessas tensões.
Tais problemas contudo não reduzem em nada a importância do acordo –pelo contrário, só ressaltam o seu caráter revolucionário. Segundo o texto assinado, as forças israelenses se retirarão da cidade de Jericó e da Faixa de Gaza nas próximas semanas, pondo fim a 27 anos de turbulenta ocupação. Essas regiões ganharão autonomia, no que pode constituir o embrião de um futuro Estado palestino. Desde logo, cerca de 5.000 prisioneiros palestinos deverão ser libertados.
A paz entre Israel e a OLP tem ainda um outro impacto crucial ao abrir caminho para a pacificação de todo o Oriente Médio. De fato, a aproximação com os palestinos estimulou conversações entre Israel e outros países da região, com os quais ainda há tecnicamente um inquietante estado de guerra.
De todo modo, e independentemente do resultado dessas outras negociações, o fato incontestável é que o acordo entre palestinos e israelenses em si já merece ser saudado como um enorme avanço na direção que todo o mundo há tanto espera. Na direção da paz.

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