São Paulo, sexta-feira, 6 de maio de 1994
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Filme será sobre 4 contos de Antonioni

LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA

Todas as previsões são otimistas para que Michelangelo Antonioni, 82, volte a filmar ainda este ano em Roma, nos próximos meses de agosto e setembro.
A notícia foi confirmada ontem com exclusividade para a Folha por Enrica Antonioni, a mulher do cineasta.
Antonioni vai filmar quatro contos extraídos do seu livro "Quel Boiling sul Tevere" e terá o cineasta alemão Wim Wenders como co-diretor. Enrica prevê a conclusão do filme até o final do ano.
Um derrame interrompeu as atividades de Antonioni em 85, enquanto preparava um filme baseado num conto de sua autoria, "Dois Telegramas". O diretor ficou com paralisia no corpo e não consegue mais falar.
Desde então o cineasta luta para superar estas limitações. Sua atividade criativa prossegue com pinturas expressionistas de paisagens dos Alpes Italianos.
Alguns cineastas, como Martin Scorsese, vêm tentando garantir que o cineasta volte a filmar. Além disso, Antonioni conta com a colaboração de sua mulher e do crítico Carlo di Carlo que o assistem nos seus projetos interrompidos e na preservação dos seus filmes.
Michelangelo Antonioni é um dos últimos totens do cinema italiano. Embora tenha se lançado no cinema como colaborador de Roberto Rossellini, os filmes de Antonioni diferenciaram-se desde cedo do estilo neo-realista.
Seus principais filmes –"A Aventura" (59), "A Noite" (60), "O Eclipse" (61) e "Deserto Rosso - O Dilema de uma Vida" (63)– consagraram um estilo único na história do cinema, com personagens minimalistas, asfixiados pelo vazio existencial e a falta de comunicação.
O apogeu do gênero e a consagração internacional de Antonioni vieram com "Blow-Up –Depois daquele Beijo" (67). O sucesso lhe valeu um convite para rodar o filme seguinte, "Zabriiskie Point", nos EUA em 1970.
Os hippies californianos de "Zabriiskie Point" chegaram a irar os censores de plantão do regime militar que o baniu das telas brasileiras.
Em 74 Antonioni voltaria às suas origens de documentarista indo filmar "China", no apogeu do socialismo maoísta.
Haveria ainda uma última tentativa de aproximação com Hollywood tendo o ótimo Jack Nicholson como personagem principal de "O Passageiro - Profissão: Repórter", em 75, de novo sobre o vazio existencial, em paisagens no norte da África.
Seus últimos filmes foram "O Mistério de Oberwald" (80), uma experiência pioneira de filmagem em vídeo para cinema, e "Identificação de uma Mulher", de 82.

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