São Paulo, sexta-feira, 6 de maio de 1994
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O sobe e desce eleitoral

Os dados mais relevantes da pesquisa Datafolha cujos resultados este jornal publica hoje são o crescimento das intenções de voto para a Presidência da República no candidato do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, e a queda acentuada de Fernando Henrique Cardoso (PSDB/PFL/PTB).
A pesquisa confirma o que já se intuía, ou seja, aparentemente, o prolongado, confuso e desgastante processo de escolha do candidato a vice-presidente na chapa de FHC enfraqueceu a candidatura do ex-ministro da Fazenda.
Com isso ameaça desfazer-se a bipolarização entre Lula e FHC, desenhada na pesquisa anterior, feita há um mês. A nova sondagem marca a evolução de um terceiro nome, o do ex-presidente José Sarney.
Sarney, com os 14% que atinge neste início de maio, está estatisticamente empatado com Fernando Henrique Cardoso, que, nessa situação, caiu para 15%. É um dado que possivelmente influirá na prévia do PMDB, marcada para dentro de pouco mais de uma semana.
Mas a pesquisa demonstra que uma hipótese antes tida como absolutamente remota, a de uma definição já no primeiro turno, deixa de sê-lo. Lula chega a obter até 42% das intenções de voto, o que lhe dá chance de ser eleito sem precisar submeter-se ao segundo turno.
É claro que todo esse cenário ainda é frágil. Pesquisas são sempre apenas indicativas, sobretudo quando realizadas a cinco meses da eleição. Mais ainda quando se considera que o candidato do maior partido brasileiro, o PMDB, nem sequer está definido.
E há ainda um fator adicional, no caso específico do PMDB, a tornar mais nebulosa a disposição de seu eleitorado potencial: a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal contra Orestes Quércia, o candidato tido como favorito à prévia peemedebista.
A pesquisa nada mediu a respeito do efeito da denúncia, porque o trabalho de campo foi feito entre segunda e terça-feira. A denúncia só foi oferecida na terça-feira.
De todo modo, o crescimento de Sarney pode tornar-se uma verdadeira assombração para a candidatura de Fernando Henrique. Se o ex-presidente conseguir derrotar Quércia na prévia peemedebista –o que parece improvável–, o presidente Itamar Franco e todo o seu governo ficam, na prática, com dois nomes nos quais podem apostar as suas fichas na sucessão.
Um é o de FHC e o outro, o de Sarney. É importante lembrar que o ex-presidente tem amizades no círculo íntimo de Itamar muito mais sólidas do que as que FHC deixou. Para o chefe do Gabinete Civil, Henrique Hargreaves, por exemplo, é obviamente muito mais sedutor apoiar Sarney, de quem foi auxiliar, do que FHC, com o qual nunca se deu muito bem, mesmo quando eram membros do mesmo governo.
Esse dado é especialmente relevante quando se introduzir na equação eleitoral a questão da inflação. A esmagadora maioria dos especialistas supõe que, ao ser criado o real, a inflação desabará e se manterá muito baixa pelo menos até outubro, mês da eleição.
A história de países submetidos a prolongados períodos de inflação alta evidencia que, quando ela cai, sobe exponencialmente a popularidade do governo de turno, como é óbvio. Logo, o candidato do governo tende a capitalizar eleitoralmente essa popularidade.
A questão pendente é saber se FHC, o autor do plano que derrubará a inflação, ainda figurará na memória do eleitor nessa condição, ou se o prestígio decorrente favorecerá mais o presidente Itamar Franco e o ministro Rubens Ricupero, atual responsável pela condução do plano. Se prevalecer esta segunda hipótese, o beneficiado, eleitoralmente, será quem o governo preferir tratar como seu candidato.
São algumas das incógnitas surgidas em face dos dados da nova pesquisa, que traz no entanto uma certeza: de todos os candidatos, o único que tem tudo a lamentar, com os números hoje divulgados, é Fernando Henrique Cardoso.

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