São Paulo, sexta-feira, 6 de maio de 1994
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Juros nas nuvens

Com a aproximação do 1º de julho, data prevista para a introdução da nova moeda, os planos do governo para depois da estabilização atraem as atenções. O ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, disse anteontem aos empresários que as possíveis medidas de contenção da demanda não vão gerar recessão.
Desde que o Plano Cruzado fracassou em meio a uma explosão de consumo, ficou entre os analistas e gestores da política econômica o trauma de que, sem inflação, as pessoas tendem a tirar seu dinheiro dos bancos e gastar. Por isso, passou-se à política de juros altos, que induzissem as pessoas a manter seus recursos aplicados.
Mesmo com as altas taxas, entretanto, três tentativas de estabilização fracassaram. No Plano Verão, de janeiro de 89, os rendimentos chegaram a 25% reais ao mês e mesmo assim o plano malogrou. Catorze meses depois, a inflação atingia o recorde de 84% ao mês.
Ficou claro que era necessário combater o déficit público e desindexar a economia. E, de fato, estas acabaram sendo as peças principais das atuais medidas de estabilização.
Ressurge agora a discussão sobre os juros. O governo vem anunciando que elevará as taxas para conter a demanda e há preocupação de um possível excesso na dose. Afinal, os juros já estão ao redor de 30% reais ao ano, contra 7% ou 8% no mercado internacional.
Em sua reunião com empresários, o ministro Ricupero declarou que não pretende exagerar no desestímulo ao consumo e acenou que não haveria cortes no crédito. Quanto a evitar uma recessão talvez desnecessária, as afirmações do ministro foram tranquilizadoras. Mas, sob o aspecto da harmonia geral do plano, nem tanto.
Entre os vários instrumentos para refrear a demanda, a elevação das taxas financeiras é o que maiores custos acarreta para o Estado. É portanto o que traz os piores efeitos colaterais, já que a obtenção de um Orçamento equilibrado é hoje o principal desafio do governo.
Nesse sentido, utilizar outras medidas administrativas, como as restrições no crédito ao consumidor, seria de grande coerência, pois estas têm um efeito similar sobre a demanda e nada custam aos cofres do Tesouro. A combinação de medidas como essas com a abertura às importações e o combate aos oligopólios pode substituir em grande parte a elevação de juros.
Trata-se de medidas cuja conveniência está não só na harmonia interna do plano, mas diretamente nos interesses do cidadão. Pois é o Estado quem paga a maior parte dos juros que o aplicador recebe. E aquilo que o Estado paga sai, cedo ou tarde, do bolso do contribuinte.

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