São Paulo, sábado, 7 de maio de 1994
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Presidente da OAB nacional defende assembléia exclusiva

DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), José Roberto Batocchio, defende a instalação de uma revisão constitucional exclusiva.
Para Batocchio, a revisão exclusiva teria a vantagem de ser "menos comprometida" com interesses políticos do que o atual Congresso revisor.
A idéia da revisão exclusiva tem ampla aceitação no Conselho Federal da OAB. O único problema levantado pelos juristas é a suposta ruptura com a Constituição de 88.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ontem à Folha:

Folha- A revisão da Constituição é mesmo necessária?
José Roberto Batocchio- A OAB entende que algumas matérias da constituição precisam ser alteradas.
É um absurdo um país como o Brasil ter uma legislação que permita edição indiscriminada de medidas provisórias, seja condescendente com a questão da fidelidade partidária e isente de alguns impostos empresas de grande porte.
Folha- Por que uma Assembléia Constituinte exclusiva?
Batocchio- A revisão seria levada de forma menos comprometida. Seriam escolhidos delegados constituintes sem qualquer ligação com a política.
O povo escolheria essas pessoas. Poderiam até ser políticos, se tivessem o compromisso de não concorrer depois a qualquer cargo eletivo.
Folha- A participação da sociedade seria fundamental?
Batocchio- Claro. Um amplo debate ocorreria em âmbito nacional. As propostas de mudança da Carta seriam a ordem do dia desses delegados.
A escolha deles já seria democrática. No máximo 150. Os maiores Estados teriam mais delegados, indicações proporcionais.
Folha- A revisão estava marcada para não emplacar?
Batocchio- Com certeza. A CPI do Orçamento revelou nosso medo da corrupção que há no Congresso.
Várias foram as causas da morte cerebral da revisão. O Congresso estava desacreditado pela opinião pública, os interesses partidários se sobrepuseram claramente.
Estamos em ano eleitoral e só isso já era motivo para não haver revisão.
Folha- O que pode atrapalhar a revisão exclusiva?
Batocchio- A dúvida de que uma nova Constituinte, em busca de formação de uma nova ordem constitucional, romperia com a Constituição de 1988.
Folha- E qual seria a alternativa?
Batocchio- Formar uma assembléia revisora exclusiva. Com isso, cláusulas pétreas (cláusulas que não podem ser modificadas, como o voto universal secreto) seriam respeitadas.
Folha- O sr. acha que, se qualquer tipo de revisão for inviabilizado, haverá a chamada "falência da administração pública"?
Batocchio- O que houve foi um escarcéu em torno da necessidade da revisão. Um terrorismo das forças que compunham a frente revisional.
Essa história de ingovernabilidade é absurda. Nossa Constituição é modelar em qualquer país do mundo.

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