São Paulo, sábado, 7 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Romário não volta à pedido da polícia

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O atacante Romário só não voltou ao Brasil ainda para não desobedecer ao diretor da DAS (Divisão Anti-Sequestros) da Polícia Civil, delegado Hélio Vígio.
O pai do jogador, o comerciante Edevair de Souza Faria, 64, foi sequestrado na segunda-feira à noite, segundo Vígio.
Os sequestradores, em telefonema para a casa de Faria, exigiram US$ 7 milhões (CR$ 9,6 bilhões) para libertá-lo.
Às 15h de ontem, de Barcelona, Romário ligou para a DAS. O jogador disse ao delegado que está disposto a voltar para o Rio após o jogo de hoje entre seu time, o Barcelona, e o Real Madri.
A conversa durou cerca de dez minutos. Vígio disse para Romário que sua volta ao Brasil irá atrapalhar o trabalho que vem sendo desenvolvido pela polícia.
Vígio argumentou que os sequestradores irão pensar que Romário trouxe para o Brasil pelo menos parte do dinheiro do resgate.
"Falei que ele tem que ficar lá. Ele não tem nada para fazer aqui. A família está toda lá. As crianças já foram para lá", disse Vígio.
O diretor do DAS acredita que convenceu o atacante da seleção brasileira a se manter afastado do Rio e das negociações para a liberação de seu pai.
"Ele procurou saber como estão as coisas. Eu o achei muito tranquilo", disse Vígio.
Apesar de Vígio evitar dar informações sobre o desejo de Romário voltar, a Folha apurou junto a policiais da DAS que o jogador já telefonou pelo menos duas vezes para Vígio.
Nas duas ocasiões, ele falou ao delegado que quer estar próximo da mãe, Manoela Faria, neste momento dramático porque passa sua família.
Na opinião de Vígio, Romário significa dinheiro para os sequestradores. Se voltar ao Brasil, raciocina o delegado, a quadrilha irá concluir que ele veio para conseguir os dólares pedidos.
"Não queremos que o resgate seja pago. Esta é a filosofia da DAS para qualquer tipo de sequestro", disse Vígio.
O delegado disse que a "pressão popular" poderá ajudar na libertação de Faria. Ele afirmou que os próprios sequestradores podem vir a soltá-lo sem pagamento de resgate.
"Romário é um ídolo importante para a seleção na Copa. Ele precisa estar de cabeça tranquila para praticar o futebol. Mesmo sendo bandidos, os sequestradores também têm esta paixão pelo futebol. Quem sabe eles não soltam o pai do Romário?", perguntou o delegado.
Vígio disse que, em telefonema, o governador do Rio, Nilo Batista, lhe pediu "empenho total" na a elucidação do sequestro.
O próprio Romário também ligou para o governador para solicitar "empenho especial" na busca do seu pai.
Segundo Vígio, os 110 policiais lotados na DAS participam das investigações sobre o paradeiro de Faria.
A DAS confirma que há mais três sequestros em andamento no Rio. Ontem, em São Gonçalo (a 20 km do Rio), teria sido sequestrado um dono de empresa de transportes. Vígio não confirmou este sequestro. "Ainda não sei de nada", disse.
Bebeto
"Não havíamos ainda assimilado o choque da morte do Senna e agora recebemos outro golpe", afirmou o centroavante Bebeto, na Espanha.
Bebeto joga no Deportivo La Coru¤a, equipe que disputa o campeonato espanhol com o Barcelona de Romário.
"Romário está com a cabeça a mil por hora. Como pode ter a tranquilidade necessária para jogar desta maneira?", disse o jogador.

Com agências internacionais

Texto Anterior: Romário é submetido à sua provação
Próximo Texto: CBF estuda como apoiar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.