São Paulo, sábado, 7 de maio de 1994 |
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Gravadoras correm atrás do rap
MARCEL PLASSE
Os créditos das fotos dos "rappers" Thaide e Pepeu estão errados. O nome do fotógrafo é Kiko Coelho. O rap não nasceu ontem, mas é a nova onda de um mercado que vive surfando ondas. Está dando dinheiro. Entrou na moda. É assim nos EUA, onde o ritmo surgiu no final dos anos 70 e onde Snoop Doggy Dogg vende milhões de discos. Está sendo assim aqui, onde Gabriel, o Pensador, conquistou, há um mês, o primeiro disco de platina do rap brasileiro. Mais do que isso: o rapper carioca é, hoje, o maior vendedor de discos do "cast" jovem da Sony. A gravadora lança, em duas semanas, seu segundo rapper, Sampa Crew, que está, há cinco meses, entre os artistas mais tocados nas rádios de São Paulo. Sampa Crew faz a linha "romântica", tem quatro discos independentes de sucesso e passagem pelo "Som Brasil" da Globo. O diretor artístico da multinacional, Jorge Davidson, diz que Sampa deve vender ainda mais do que Gabriel. E prevê: "O sucesso vai levar outras companhias a buscar esse segmento". A partir desta segunda, a Warner distribui os discos do selo independente Zimbabwe, que tem no catálogo o Racionais MC's. Só em São Paulo, Racionais vendeu 100 mil cópias de seu último LP, "Raio-X do Brasil" (1993). Dia 15, chega às lojas o primeiro CD do grupo, com o melhor de seus três discos. "Mas a gente não tem planos de conquistar o público que tem CD", afirma Mano Brown, principal letrista do Racionais. "Nosso povo não tem CD-player". Racionais, como a maioria dos artistas de rap, tem base na periferia e desconfia do modismo. "Todo ano tem um movimento para explorarem", diz Brown. "Este ano, decidiram que é o rap. Só que o movimento tá aí há dez anos. Não precisa da mídia." A mídia, de todo modo, quer o rap. Em junho, o esquecido programa "Yo MTV Raps!" sai das madrugadas da emissora para o horário nobre das 21h, e volta a ter produção nacional. Primo Preto, do grupo SP Funk e futuro VJ do novo "Yo", sabe que o público da MTV não está na periferia, mas quer manter as portas abertas para o movimento. A produção deve até criar clipes para os grupos –gravações de shows–, porque ainda são poucos os que contam com o dinheiro das grandes companhias. Sampa Crew e Gabriel, com clipes, defendem a passagem do rap para o mercado da música pop. "Tô fazendo o mesmo que Bob Marley", compara Gabriel. "Ele foi bastante criticado quando levou o reggae para fora da Jamaica." "Quando o rap for visto como uma coisa mais popular", diz Sampa, "vai vender tanto quanto música sertaneja e samba. Mas enquanto ficar só na periferia, nunca vai passar das 100 mil cópias." A partir do ano passado, os rappers começaram a sair dos bailes black e fazer shows na região dos Jardins, em São Paulo. O próprio Racionais tocou no Columbia. "Contra a minha vontade", garante Brown. Mano Brown concorda que a popularização é inevitável, mas diz que isso não muda a atitude. "Não vou sair dizendo pra playboyzada: `não escuta nossas músicas'. Mas deixo bem escuro –e não claro– que a música que faço é para o povo de periferia." "Sempre achei que ia ter medo do rap virar modismo", diz o veterano rapper Thaide. "Mas a verdade não morre com as modas." "Precisou esperar um branquinho gravar pela Sony", conclui Smokey-D, do Doctor MC's, referindo-se a Gabriel. "Mas agora o pessoal vai ver que tem gente bem melhor". Próximo Texto: Rappers se dividem entre românticos e engajados Índice |
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