São Paulo, sábado, 7 de maio de 1994
Próximo Texto | Índice

Sem surpresas

Vésperas de mudanças econômicas foram sempre, no passado, momentos de incerteza e especulações. Fases em que toda sorte de boatos ganhavam força facilmente e um verdadeiro pânico se apossava das pessoas, empenhadas em desvendar a caixa-preta do próximo pacote e não serem "fisgadas" pelas medidas do governo.
A aflição por que passava o país a cada novo plano foi frequentemente acompanhada de significativas perdas para vários setores.
Pior do que isso foi o fato de que os transtornos e a desorganização gerada na economia foram em vão. Ainda que o Estado fizesse intervenções brutais, como ocorreu com o confisco dos ativos financeiros no governo Collor, os vários planos fracassaram sucessivamente.
Desde que o atual plano de estabilização foi lançado pelo ex-ministro Fernando Henrique Cardoso, a tônica do discurso oficial foi de que desta vez não haveria surpresas e, mais do que isso, que o novo equilíbrio dos preços e contratos seria fixado pelo próprio mercado, e não por regras impostas pelo governo.
A entrevista de ontem do ministro Rubens Ricupero e as informações divulgadas por sua assessoria demonstram que, pelo menos até agora, mantêm-se os compromissos iniciais. Foram anunciadas medidas que prevêm a utilização da URV na correção dos preços do petróleo e derivados e que ampliam o uso do novo indexador no setor financeiro.
Em que pese ainda o injustificável aumento de gastos no projeto de Orçamento do governo, a instabilidade nas bolsas, a indefinição da futura regra cambial e dos critérios de emissão da nova moeda, há de se reconhecer que o prosseguimento do cronograma do plano é, por si só, um fator de estabilidade.
Entretanto, a insegurança quanto às regras econômicas futuras, que continua, tem inibido as iniciativas comerciais e as decisões do setor produtivo. A construção de um horizonte mais claro, além do anúncio do Dia D, reveste-se assim de grande importância daqui para frente.
Para um país que vinha desconfortavelmente se acostumando a longas e recorrentes crises, nada mais necessário do que uma perspectiva de estabilidade e o compromisso do governo de que, para alcançá-la, não haverá mais surpresas ou golpes milagrosos.

Próximo Texto: Roleta financeira
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.