São Paulo, sábado, 7 de maio de 1994
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Roleta financeira

Há várias maneiras de se avaliar a confiança dos agentes econômicos. As variações do dólar, os mercados futuros, as Bolsas ou a disposição para investir são exemplos. Mas há momentos, como o atual, em que os indicadores estritamente financeiros parecem girar em falso.
Nos últimos dias o desempenho das Bolsas brasileiras foi um exemplo impressionante de desatino. Ontem, por exemplo, papéis de destaque mostraram-se instáveis. Os títulos da Telebrás, para citar um caso, tiveram oscilações de até 20% ao longo do dia. Ainda assim, a Bolsa fechou em alta. Mas, desde o início do ano, a variação acumulada já indica perdas em dólar.
O fenômeno fundamental é a retração dos investidores estrangeiros. O volume de negócios, em maio, equivale a um terço do que se registrou em janeiro. No jogo da Bolsa apostam agora apenas poucos e grandes investidores, na fronteira entre a audácia e a aflição.
Nesse cenário não há mais como atribuir às Bolsas a função de termômetro das expectativas econômicas. Além de o número de participantes ter declinado e de os preços variarem às cegas, há o fator fundamental de alta continuada dos juros nos Estados Unidos, que retém capitais em Wall Street, debilitando ainda mais a Bolsa brasileira.
Comprometida, ao menos por ora, a representatividade da Bolsa como indicador de expectativas, resta saber quais são as alternativas. O dólar, cuja cotação no mercado paralelo serviu no passado como medida dos humores, perdeu também essa condição. O Banco Central, com reservas beirando os US$ 35 bilhões, pode hoje abafar qualquer corrida especulativa.
Nesse ambiente, as Bolsas vão-se assemelhando cada vez mais a uma roleta. Com a Bolsa biruta e o dólar engessado, a maior ou menor confiança dos agentes econômicos se expressará cada vez mais no próprio sistema de preços. A julgar pela aceleração moderada da inflação, a economia parece, pelo menos até o momento, bem mais estável do que o jogo de ações e títulos.

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