São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Gabinetes revelam o perfil dos políticos

CYNARA MENEZES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os gabinetes do Congresso escondem segredos além da política. Se neles são traçados os destinos do país, também se traça ali a personalidade de seus ocupantes.
O supersticioso deputado Roberto Cardoso Alves (PTB-SP), por exemplo, não podia deixar de dar à decoração do gabinete, um dos mais bonitos da Câmara, um toque contra o mau agouro.
No jardim de inverno decorado com azulejos de Athos Bulcão há plantas como arruda e guiné, eficazes contra "olho gordo", segundo Robertão, mas ineficazes contra "mão leve": um vaso de arruda foi roubado há duas semanas.
Também supersticioso, o senador Áureo Mello (PRN-AM) chegou a mandar tirar uma paisagem de seu gabinete, decorado com poemas e pinturas de sua autoria. Cismou que o quadro trazia azar.
O sortudo procurador da Câmara, deputado Vidal do Rego (PDT-PB) ganhou um gabinete à altura: uma sala um tanto lúgubre, antes ocupada pelos ministros de Estado em visita à Câmara.
É um gabinete pequeno e sem ventilação, decorado com móveis em imbuia que pertenceram à antiga Câmara dos Deputados, no Palácio Tiradentes (Rio). Inclusive uma chapeleira, usada como cabide –o deputado não usa chapéu.
Os móveis dos antigos Senado e Câmara dão um tom solene aos gabinetes dos presidentes das duas casas. Os demais móveis são como os de qualquer escritório.
O presidente do Senado, Humberto Lucena (PMDB-PB), usa uma cadeira estilo Luís 16 que pertenceu ao antigo palácio Monroe, demolido durante as obras de construção do metrô do Rio.
Na parede do gabinete, Lucena tem emoldurado o croquis original de 1919 da fachada do palácio, onde funcionou o Senado até a inauguração de Brasília, em 1960.
A mulher do presidente da Câmara, Inocêncio Oliveira (PFL-PE), gostou do gabinete de Lucena e resolveu redecorar o do marido com alguns dos móveis do palácio Tiradentes.
O sofá onde os convidados costumam escorregar no gabinete de Inocêncio ficava na "sala do café" da antiga Câmara, e a cadeira com espaldar alto, no plenário.
Ao contrário dos deputados, todo senador pode solicitar para decoração do gabinete quadros do acervo –que inclui Fayga Ostrower, Aldemir Martins, Floriano, Djanira, Scliar e Iberê Camargo.
O Senado tem até uma espécie de "circuito Elisabeth Arden" (expressão que designa os postos mais importantes da diplomacia brasileira: Paris, Londres, Amsterdã, Bruxelas, Roma, Washington).
No Congresso, o "circuito" reúne a ala de gabinetes com cerca de 150 metros quadrados de área, os maiores da Casa, e saída lateral estratégica.
Um dos felizardos que ocupa o setor é o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). Entre livros e objetos, chama a atenção a foto na parede, dedicada ao autor de "Marimbondos de Fogo" pelo escritor mexicano, o prêmio Nobel de Literatura de 1990, Octávio Paz.
O senador Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL) guarda uma relíquia na parede. Um cartum dedicado a ele por Henrique de Sousa Filho, assinado: "Henfil Vilela".

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