São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Empresas traçam cenário de juros altos

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Quem não está capitalizado é bom começar a rezar e a se benzer." A afirmação é do presidente da associação dos exportadores de cereais, Ricardo Pelúcio.
A frase traduz o que pensam bancos e empresas do cenário dos primeiros meses da nova moeda, o real. O consenso: juros altos.
Pelúcio também preside a ContiBrasil, que exporta soja. A empresa desenvolveu estrátegia para aproveitar os juros altos. "É obter um ganho extra com a diferença entre juros externos e internos."
Hoje este ganho extra é de 20% ao ano. Sua projeção é de que, na primeira fase do real, fique entre 60% e 80% ao ano –patamar que define como "estratosférico".
Com juros altos, o governo pretende impedir uma possível explosão do consumo, mas não deseja promover uma recessão.
Para Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, ninguém sabe qual é a taxa de juros capaz de fazer isto. O BC, diz, na base da tentativa e erro, vai procurar o ponto de equilíbrio.
Exatamente por isto, Tereza Fernandes, da MBA consultoria, diz que o juro sobre o câmbio pode ser, num primeiro momento, menor do que 60% ao ano.
"O BC deve começar com o juro um pouco mais baixo e, se precisar, balizar para cima." Apesar disso, ela prevê algum aquecimento do consumo.
"Espero que eles não errem na dose", diz Sérgio Mindlin, diretor-presidente da Metal Leve.
A empresa reduziu prazos de recebimento, aumentou a disponibilidade de caixa e aplica o excedente no mercado financeiro. "Formamos um colchão de liquidez."
Para ele, não passa de um desejo as expectativas de queda rápida dos juros pós-real. "O governo vai segurar os juros para impedir os estoques e a corrida às compras."
Como a expectativa é de um juro crescente, as alternativas de aplicação mais procuradas são de curto prazo e pós-fixadas.
Luis Felipe Brandão dos Santos, diretor-financeiro da Latasa, diz que formar um colchão de liquidez é a melhor resposta das empresas ao cenário de juros muito altos.
"Só que no nosso caso não dá para fazer isto pois estamos comprometidos com dois grandes projetos de investimentos", afirma.
Para construir uma nova fábrica no Rio e ampliar a linha de produção no Rio Grande do Sul, a empresa está contratando empréstimos de longo prazo a taxas de juros "internacionais" junto ao BNDES e ao IFC (International Finance Corporation).
Outro caso é o da Agroceres, que vende sementes. "No primeiro semestre, nós gastamos dinheiro, formando estoques. As vendas acontecem no terceiro trimestre", diz Luiz Salada, diretor financeiro.
A estratégia foi utilizar as linhas de crédito rural (que têm juros mais baixos do que as demais).
A preocupação de Sérgio Haberfeld, presidente da Toga, a líder em embalagens flexíveis, é o câmbio. Para ele, o ganho obtido via juros não compensa a possível perda sofrida pela valorização do real.
É que o câmbio (relação entre dólar e real) ficará, ao menos no início, fixo, mas vai haver alguma inflação em real.

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