São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mercado começa avaliar o efeito Lula

DA REPORTAGEM LOCAL

A programação financeira da ContiBrasil, quinta maior exportadora brasileira de soja, ligada a multinacional Continental Grain, tem uma data fatal: 1º de setembro.
Se estiver consolidada a vitória eleitoral do candidato do PT, os recursos voltam para o exterior.
A informação é do presidente da empresa, Ricardo Pelúcio, que não descarta a hipótese de antecipar este movimento.
"O Lula (Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à presidência da República) é um candidato da esquerda radical que não tem uma postura de respeito ao mercado", diz.
Por isso, segundo ele, o mercado vai se proteger. As Bolsas vão entrar em um buraco enorme, despencando no vazio. Vai haver corrida contra o dólar e "êxodo grande de capitais".
O ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore, diz também que as "expectativas são sempre relevantes".
Dependendo delas pode haver fuga de capitais e suas consequências, como um novo surto inflacionário. "Pode acontecer de tudo", afirma Pastore.
Mesmo acreditando em alguma "lulite", a consultora Tereza Fernandes, da MBA, não prevê um "cenário tão apavorante".
Para ela, o petista sabe que não vai governar sozinho. "Tanto ele como o mercado estão mais racionais. Ambos sabem que ele é minoria, que vai ter que se compor."
É esta a impressão também de Sérgio Haberfeld. "Só que isto vai custar uma barbaridade para o Brasil. E é isto que me mete medo."
Para Haberfeld, haverá o que ele chama de uma "curva de aprendizado". O candidato petista, diz, vai demorar dois anos para realizar composições e para operar esta transição.
"Acontece que o Brasil não tem mais este tempo para perder. Já perdemos muito tempo", afirma.
Já o diretor-financeiro da Latasa, Luis Felipe Brandão dos Santos, diz que "a nossa empresa segue o estilo japonês. Nós pensamos no longo prazo e o Brasil não vai acabar com o Lula".
Para ele, o candidato petista não poderá fazer nada pior ou mais truculento do que o Plano Collor. "Nós ficamos 45 dias sem vender uma única lata."

Texto Anterior: Empresas traçam cenário de juros altos
Próximo Texto: Itamar prepara discurso sobre o anúncio do real
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.