São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Justiça busca alternativa para reduzir crime juvenil

EUNICE NUNES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A justiça reparadora (na qual o autor do delito deve reparar o dano causado à vítima) vem ganhando espaço no mundo como forma de controle da delinquência juvenil.
Esta nova concepção de justiça, adotada em vários países da Europa e nos Estados Unidos, tem contribuído para a redução da reincidência do menor delinquente.
A informação foi dada pelo professor de criminologia da Universidade de Gênova (Itália), Uberto Gatti, durante a 2ª Jornada Oscar Freire, realizada entre os dias 28 e 30 de abril na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo Gatti, a justiça reparadora procura combater o delito com alguma coisa de útil, que seja capaz de remediar o dano causado.
Ela se contrapõe ao modelo tradicional, "que reage a um mal –o crime– com outro mal –a pena", e não traz nenhum benefício nem para a sociedade nem para a vítima do delito.
Inglaterra, França, Portugal,Itália, Holanda, Dinamarca, Alemanha, Áustria, Estados Unidos e Brasil (leia texto abaixo) são países que introduziram em suas legislações o novo tipo de justiça.
A reparação do dano tem-se demonstrado uma alternativa eficaz às sanções tradicionais de prisão e multa, desde que o condenado esteja de acordo com a pena estabelecida, afirmou Gatti.
Mediação
Uma pesquisa alemã realizada em 1990 concluiu que 39% dos casos levados a tribunais de menores poderiam ser resolvidos por uma instância mediadora que atuasse entre a vítima e o infrator.
Na Áustria, a mediação tem obtido bons resultados, informou o professor Gatti. Lá, delinquente e vítima são postos frente a um mediador nomeado pelo juiz.
Se o autor do crime e a vítima chegam a um acordo sobre o que deve ser feito, o juiz arquiva imediatamente o processo.
"A mediação é mais rápida e mais barata do que um processo judicial tradicional", observou o criminologista italiano.
A experiência tem demonstrado que a maioria das vítimas dispõe-se a participar de processos de mediação e mostra-se satisfeita com as soluções encontradas.
Gatti lembrou que a abordagem terapêutica do menor delinquente revelou-se, na prática, um instrumento de repressão sem quaisquer garantias para o jovem infrator.
Política social
A aplicação do direito formal tem apresentado "danos colaterais", como a reincidência (repetição da conduta delituosa) e a marginalização do jovem delinquente pertencente às camadas mais pobres da sociedade.
Foi a falência dos modelos tradicionais que levou à procura de alternativas.
Hoje dá-se uma atenção maior às necessidades das vítimas dos delitos, traduzida na criação da justiça reparadora e das instâncias de mediação.
O professor italiano frisou a importância da crimonologia na elaboração de novas leis e na formulação de programas de política social.
Em Gênova, cidade onde vive Uberto Gatti, o Instituto de Criminologia reorganizou o sistema de prevenção da delinquência juvenil. Tem participado também da realização e implantação de programas sociais na cidade.

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