São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994 |
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Mãe conta em livro relação com filha autista
AURELIANO BIANCARELLI
Não que Sheila não queira a mãe. Os autistas vivem enclausurados em seu mundo e não conseguem perceber o afeto dos outros. Se hoje Sheila é capaz de exteriorizar um pouco do que sente, deve muito à mãe. Durante uma vida inteira, Yvonne se bateu em busca de um canal de diálogo com a filha. Procurou dezenas de especialistas. Na maioria das vezes, voltou para casa sem esperanças. Este relato sofrido, cheio de culpas e de pequenas alegrias, compõe o livro "Portas Entreabertas", escrito por Yvonne e lançado na semana passada pela Editora Plexus. É o primeiro relato de uma mãe de autista escrito no Brasil. A proximidade com o Dia das Mães é mera coincidência. Mas poderia não ser. "É difícil dar muito e receber pouco de volta", diz o médico psiquiatra Raymond Rosenberg, 49. "A mãe de autista se entrega sem esperar retorno. O autista não identifica o afeto e não retribui." Não dá nem quer receber. O relato de Yvonne vai tocar milhares de outras mães. Pelas estimativas internacionais, quatro em cada dez mil crianças nascem com a síndrome de Sheila. Só na Grande São Paulo existiriam cerca 5.000 autistas, crianças e adultos. O livro deve ajudar os profissionais. Muitos dos autistas crescem como se fossem retardadas mentais ou vítimas de violência em casa. Poucos médicos e psicólogos sabem reconhecer a síndrome. "Eles não conseguiram me ajudar", diz Yvonne. Sheila tinha pouco mais de um ano quando a mãe notou diferenças no seu desenvolvimento. Só aos oito Sheila foi dada como autista. Texto Anterior: Brasil usa reparação de dano Próximo Texto: Instituições orientam os pais Índice |
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