São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Mãe conta em livro relação com filha autista

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Yvonne Meyer Falkas, 46, espera ganhar hoje um abraço da filha Sheila. Vai ficar morrendo de felicidade. Sheila tem 22 anos e é autista. Dez anos atrás, Sheila não conseguiria manifestar nenhum sentimento.
Não que Sheila não queira a mãe. Os autistas vivem enclausurados em seu mundo e não conseguem perceber o afeto dos outros.
Se hoje Sheila é capaz de exteriorizar um pouco do que sente, deve muito à mãe.
Durante uma vida inteira, Yvonne se bateu em busca de um canal de diálogo com a filha. Procurou dezenas de especialistas. Na maioria das vezes, voltou para casa sem esperanças.
Este relato sofrido, cheio de culpas e de pequenas alegrias, compõe o livro "Portas Entreabertas", escrito por Yvonne e lançado na semana passada pela Editora Plexus. É o primeiro relato de uma mãe de autista escrito no Brasil.
A proximidade com o Dia das Mães é mera coincidência. Mas poderia não ser. "É difícil dar muito e receber pouco de volta", diz o médico psiquiatra Raymond Rosenberg, 49.
"A mãe de autista se entrega sem esperar retorno. O autista não identifica o afeto e não retribui." Não dá nem quer receber.
O relato de Yvonne vai tocar milhares de outras mães. Pelas estimativas internacionais, quatro em cada dez mil crianças nascem com a síndrome de Sheila. Só na Grande São Paulo existiriam cerca 5.000 autistas, crianças e adultos.
O livro deve ajudar os profissionais. Muitos dos autistas crescem como se fossem retardadas mentais ou vítimas de violência em casa. Poucos médicos e psicólogos sabem reconhecer a síndrome.
"Eles não conseguiram me ajudar", diz Yvonne. Sheila tinha pouco mais de um ano quando a mãe notou diferenças no seu desenvolvimento. Só aos oito Sheila foi dada como autista.

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