São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Debate sobre a eutanásia ganha força nos EUA

USA Today
De Arlington

ELIZABETH NEUS

Muitos grupos de defesa do direito à morte vêem os métodos do doutor Jack Kevorkian com reservas, mas alguns deles disseram que sua absolvição de acusações de ajudar um homem a cometer suicídio constitui indício de que as pessoas desejam ter mais controle sobre quando e onde vão morrer.
"Acho que na nossa sociedade as pessoas realmente têm medo do que acontece com elas quando estão morrendo, e Kevorkian é um reflexo dessa preocupação", disse Ann Fade, diretora de serviços legais da entidade "Choice in Dying" (Opções de Morte), que promove os testamentos em vida.
Kevorkian, um patologista aposentado, conseguiu evitar a condenação no último dia 2 devido a uma brecha jurídica.
O júri do Michigan decidiu que ele pretendia aliviar o sofrimento de Thomas Hyde, 30, que tinha a doença de Lou Gehrig, e não provocar sua morte.
A lei contra o suicídio assistido vigente no estado do Michigan permite que os médicos aliviem a dor de um paciente, num procedimento que pode acelerar a morte.
Por exemplo, quando se dá morfina extra a um paciente isso alivia sua dor, mas também desacelera sua respiração.
"É uma questão de semântica, mas isso é feito em toda parte", disse o doutor Stephen Cohen, cancerologista de San Antonio, Texas. "É algo que estamos tolerando e que as pessoas desejam."
Os atos praticados por Kevorkian diferem do que os oncologistas fazem todos os dias nos hospitais, segundo Cohen. "Tanto ele quanto nós pomos fim à vida de pacientes mais cedo. Mas, em nosso caso, é questão de horas ou dias mais cedo. No caso de Kevorkian, é questão de anos".
As pessoas que acreditam que os pacientes devem ter o direito de controlar a maneira em que morrem saúdam a discussão aberta pelas iniciativas de Kevorkian –que assistiu as mortes de 20 pessoas, desde 1990–, mas o próprio Kevorkian ainda é um problema.
No caso de Thomas Hyde, um recipiente metálico de monóxido de carbono tóxico foi acoplado a ele, na parte traseira do furgão de Kevorkian. Uma máscara de plástico transparente foi colocada sobre seu nariz e sua boca.
"O problema é que o modo pelo qual Kevorkian faz a coisa é tão aberta e visível", disse Lee LaTour, porta-voz da Hemlock Society (Sociedade Cicuta, ou veneno), que quer que os médicos sejam autorizados a ajudar abertamente seus pacientes a morrer, quando eles assim o desejarem.
Está aumentando o interesse público em se conquistar algum controle sobre o fim da vida. Recentemente a coluna "Dear Abby" publicou o endereço da Hemlock Society em resposta a uma carta de uma filha enlutada, indignada pela maneira pela qual as últimas vontades de seu pai foram ignoradas. Segundo LaTour, nas duas semanas seguintes a sociedade recebeu 20 mil telefonemas.
Depois que os médicos de Richard Nixon revelaram que ele havia feito um testamento em vida, a "Choice in Dying" foi obrigada a contratar um funcionário temporário para atender os telefonemas que começou a receber –uma média de 5.000 por dia.
Em seu testamento em vida o 37º presidente dos EUA, morto em abril em consequência de um derrame cerebral, pediu que não fossem tomadas quaisquer medidas extraordinárias para mantê-lo vivo.

Tradução de Clara Allain

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