São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Europeus vão decidir a cara da moeda única

REGINA CARDEAL
DA REDAÇÃO

Uma obra de Boticelli, um símbolo abstrato ou uma figura mitológica. O que fica melhor na face da futura moeda européia? Quem decide é o público.
O Parlamento Europeu resolveu levar a moda da mídia interativa à moeda, ou melhor à idealizada moeda única que deve circular pela Europa a partir de 1997, ou 1999 no pior dos casos.
Os europeus vão votar nas cédulas e moedas que mais lhes agradarem. Os 19 modelos possíveis serão publicados nas 15 revistas mais lidas do velho continente.
Nas contas do Parlamento, pelo menos 100 milhões de leitores podem participar desta inédita pesquisa de opinião.
Quarta-feira passada, o Parlamento exibiu em sua sede, Estrasburgo (França), os modelos das dez cédulas e nove moedas.
Além de Boticelli, gigantes das artes, como Rembrandt e Michelangelo, e da história da Europa estão representados nas cédulas que vão ser submetidas à votação.
O voto deve seguir pelo correio e o resultado sai no ano que vem, em data ainda não fixada.
Mas quem dará a palavra final sobre a cara da moeda é, como convém, o Instituto Monetário Europeu –o embrião do banco central único da Europa, já instalado em Frankfurt.
A reação do público à pesquisa vai servir como amostra da popularidade (ou rejeição) da moeda única. Pesquisas anteriores mostram que ela não desperta grande entusiasmo.
Não é de se estranhar. Os europeus vão ter de trocar moedas fortes e estáveis –o marco alemão, num exemplo extremo– por uma coisa chamada ECU.
A indefinição sobre a pronúncia (écu, êcu, e-ce-u e outras) é só um detalhe da falta de identificação do europeu comum com a coisa.
A ECU (do inglês European Currency Unit, ou Unidade Monetária Européia) é por enquanto usada apenas na contabilidade financeira da UE (União Européia).
O orçamento da UE, por exemplo, é estimado em ECU.
O valor da ECU é calculado com base numa cesta de moedas européias. Na sexta-feira, uma ECU valia 1,93 marco.
Em cinco (ou sete) anos, a ECU deve estar literalmente no bolso dos europeus. Isto se nenhum imprevisto atrapalhar o cumprimento do Tratado de Maastricht sobre a união européia.
Para os euroentusiastas, partidários da Europa unida, a moeda única só traz vantagens:
* A UE vai economizar muito com a eliminação dos gastos nas transações de câmbio e nas burocracias decorrentes.
* O comércio entre os europeus lucra com o fim da instabilidade do câmbio.
Exportadores e importadores não têm de se preocupar com oscilações futuras da moeda quando acertam seus contratos. O mesmo vale para os negócios entre as empresas e para o consumidor.
* Em uma década, a moeda européia pode tirar a supremacia do dólar no sistema financeiro internacional.
O dólar, dizem, é a moeda mais usada em investimentos porque só o mercado financeiro dos EUA pode absorver somas que "afogariam" outros mercados.
Os Estados Unidos da Europa, com sua moeda única, podem balançar o domínio americano.

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