São Paulo, segunda-feira, 9 de maio de 1994
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Varejo muda estratégia com a estabilização

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

O comerciante que até hoje só apostou em preço baixo para ter sucesso em seu negócio pode estar no caminho errado quando a inflação baixar para 2% ou 3% ao mês com a entrada do real.
A previsão é de Claudio Felisoni, coordenador do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo.
Junto com a Andersen Consulting, Felisoni estudou o que pode mudar nos 700 mil pontos comerciais do país com a estabilização da economia.
"A inflação alta fez com que a estratégia de vendas do varejo ficasse centrada no preço", diz.
Com a perspectiva de queda, a qualidade do atendimento passa a contar junto ao consumidor.
No novo cenário, os preços dos grandes supermercados vão estar muito próximos ao da mercearia da esquina e "o varejo vai ter de suar a camisa para ganhar o consumidor", diz o consultor Francisco Ribeiro, da Andersen Consulting.
As lojas que compram a prazo, vendem à vista e ganham com a aplicação financeira nesse meio tempo vão ter essa receita quase zerada com a queda da inflação.
Resultado: o diferencial de preço entre as lojas, bancado em parte pelo ganho financeiro, diminui e a concorrência se acirra.
O comerciante, diz Ribeiro, terá de contar com um estoque mais diversificado para manter o cliente.
O efeito positivo da queda da inflação, diz Felisoni, é que o consumidor passa a saber qual é a loja que vende caro ou barato. O desconto se torna mais vísivel.
O estudo prevê o crescimento de vendas por catálogo e aposta, ainda, que o mercado nacional passe a atrair novas redes varejistas.
Segundo o estudo, elas só estariam aguardando a estabilização para fincar os pés no país.
Poucas empresas, no entanto, admitem ter procurado as consultorias para repensar seus negócios.
Paulo Afonso Feijó, vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados e dono do supermercado Econômico, em Porto Alegre (RS), já tem um projeto pronto para quando entrar o real.
Ele pretende interligar, por computador, suas lojas com 30 fornecedores. O objetivo é comprar conforme as vendas, reduzindo custos de estocagem, transporte, negociação e distribuição.
Em recente reunião dos supermercadistas, um consultor norte-americano revelou que esse sistema de compras instalado em uma grande rede de varejo dos Estados Unidos, a Wall Mart, reduziu o preço final da mercadoria em 40%.
Feijó acredita que com a estabilização, compras e vendas ficarão diluídas ao longo do mês. "Como nos Estados Unidos, as compras podem ser feitas diariamente com preços estabilizados."
Ele não acredita que muitos supermercados quebrem, quando os ganhos financeiros se reduzirem.

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