São Paulo, segunda-feira, 9 de maio de 1994
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Somos melhores do que a Islândia

Ronaldo mostra futebol de craque
MARCELO FROMER e
NANDO REIS

MARCELO FROMER; NANDO REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Guardando as devidas proporções, foi preciso uma tragédia para que meio mundo se desse conta dos evidentes perigos de uma corrida de F-1.
Se bem que se tivesse morrido apenas o jovem piloto austríaco, e nosso herói eventualmente tivesse vencido aquele fatídico Grande Prêmio, provavelmente teríamos perdido a oportunidade de ver as coisas como elas realmente são.
Mas a realidade carrega consigo o dom da irreversibilidade.
E já que o nosso assunto aqui é futebol, traçando um rápido paralelo, o aviso que veio em 90 com a triste "adaptação" do nosso futebol aos moldes europeus, quando Laza fez apagar a fraca chama que ainda iluminava o estilo Brazil de se jogar bola, não foi suficiente para que pudéssemos enxergar nesses últimos quatro anos a incontestável recuperação do futebol ofensivo e criativo proporcionado pelo surgimento de craques de primeira linha junto com o ressurgimento de técnicos que souberam aproveitar desse imenso manancial.
Fizemos o nosso último amistoso que antecedeu a definitiva convocação dos 22 e pudemos comprovar que sim, somos melhores que a Islândia, quase que uma seleção de hóquei que veio jogar nos trópicos com uniforme de mangas compridas mais adequado para as regiões polares.
No que diz respeito à convocação dos atletas para esse amistoso, as presenças de Túlio e Sávio foram patéticas. Simplesmente porque eles serviram para camuflar a subordinação da CBF às imposições dos clubes estrangeiros, que, por razões mais do que cabíveis, não cederam seus jogadores para esse burocrático amistoso.
É o que deveriam ter feito também os dirigentes do São Paulo e do Palmeiras, que não deram ouvidos aos seus respectivos técnicos, prejudicando assim os seus times que jogam as rodadas decisivas do mais forte campeonato regional do país.
Ronaldo mostrou um futebol de craque, mas que certamente não será utilizado numa seleção que prefere a obsoleta "experiência" em lugar da ousadia.
O jovem atacante mineiro, além de mostrar personalidade, foi também solidário com o seu concorrente direto, Viola.
E Viola, que mostrou saber fazer com a camisa do Brasil os mesmos gols que tantas vezes já fez no seu timão.
Mas talvez o mais ousado propósito desse teste tenha sido a averiguação das condições de Paulo Sérgio para cumprir as funções de Raí.
Tomara que no lugar de tamanha ousadia surja proporcional constatação. Antes de importar o serelepe alemão, o Teimoso já poderia ter testado os "laterais da reserva" Cafu e Leonardo.
Pena que o nosso grupo não seja formado por três Islândias, pois assim poderíamos ousar um pouco mais e levar os tais cinco atacantes sem sacrificar o César Sampaio. Ele bem que poderia ir no lugar de Zagalo.
Com o Teimoso faltam 39 dias para começarmos a perder mais uma Copa.

Marcelo Fromer e Nando Reis são integrantes da banda Titãs

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