São Paulo, segunda-feira, 9 de maio de 1994
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CNA se parece com o PT

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O espelho sul-africano serve também para a questão partidária. O CNA é, de alguma forma, um PT em negro.
É formado por inúmeras correntes, que vão do marxismo puro a um nacionalismo hoje muito moderado, representado por sua cúpula e em especial pelo virtual presidente eleito, Nelson Mandela.
São comunistas 16 dos 50 nomes que ocupavam os primeiros lugares na lista de candidatos do CNA à Assembléia Nacional. Todos foram eleitos.
O CNA tem até o que se poderia chamar de Rui Falcão de saias, na figura de Winnie Mandela, a ex-mulher de Mandela, que representa as visões mais radicais.
É incorreto, no entanto, tratar um ou outra apenas como figuras folclóricas, marginais em relação à moderação da corrente principal tanto do PT como do CNA.
No caso de Winnie, ela foi afastada da direção regional da Liga das Mulheres do CNA, após envolver-se em escândalos de corrupção e até de assassinato, apenas para ser eleita a presidente nacional da Liga.
Tolice supor, portanto, que ela não representa uma corrente importante no CNA.
Winnie já deu o sinal, no primeiro dia de votação, ao dizer, em comício, que a primeira terra a ser tomada pelo novo governo seria a de Eugene Terre-Blanche, líder do AWB (Movimento de Resistência Africâner, neonazista).
Mandela, como Lula, representa o ponto de equilíbrio do CNA. Mas, ao contrário de Lula, ainda jovem (48 anos), Mandela tem 75 anos e é inevitável que já haja uma surda disputa pela sua sucessão.
Por enquanto, os seus lugar-tenentes são todos moderados, como Thabo Mbeki, Walter Sisulu e Cyril Ramaphosa, o secretário-geral, aliás o mais articulado dos líderes do CNA.
Mas Ramaphosa tem um impedimento étnico para assumir. É venda, etnia minoritária.
Pelo menos esse problema, o conflito étnico, o PT não tem. Mas, no mais, as semelhanças são formidáveis, assim como a dúvida sobre que corrente prevalecerá, tanto no CNA como no PT, se este vencer a eleição brasileira.
(CR)

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