São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 1994
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Crise de modelos

Com a nítida vitória dos ex-comunistas no primeiro turno das eleições realizadas no último domingo na Hungria, repete-se um fenômeno que já se está tornando comum na Europa do Leste: o retorno dos partidos de esquerda ao poder.
Embora essas agremiações estejam historicamente ligadas ao regime que dominou toda a política da Europa Oriental das últimas décadas, elas hoje são bastante diferentes e já não podem ser chamadas nem mesmo de marxistas. Defendem, por exemplo, a economia de mercado, embora proponham uma transição lenta e gradual.
De todo modo, com a vitória do Partido Socialista Húngaro, já é a quarta vez, desde o terremoto que varreu o marxismo-leninismo do Velho Continente, que os ex-comunistas voltam ao poder por eleições democráticas. Primeiro foi a Lituânia, depois veio a Polônia e a seguir a recém-criada Eslováquia.
A lição que se deve tirar desses resultados aparentemente surpreendentes é que a transição para o capitalismo não ocorre sem dor. É óbvio que não é fácil transformar da noite para o dia uma economia estatizada, planificada, sob um governo totalitário e assistencialista, em livre mercado. Veio, é claro, a liberdade. E isso é ótimo, tão bom que ninguém ousa insinuar a volta do velho regime. Mas vieram também inflação aberta e desemprego, piorou o desabastecimento e houve quebra da ordem institucional, com notável piora dos serviços públicos. Os partidos que derrubaram o comunismo e haviam assumido o poder foram então naturalmente responsabilizados pelo eleitorado.
De resto, embora em grau incomparavelmente menor que o existente na Europa Central, o Ocidente também passa por uma grave crise: o desemprego é estrutural e tende a crescer, o Welfare State tornou-se muito custoso, quase inviável, a imigração de refugiados econômicos agrava ainda mais a situação. Os mais recentes resultados eleitorais nas nações da Europa Ocidental são eloquentes.
Uma coisa é certa, o marxismo-leninismo morreu e o capitalismo neoliberal ou social-democrata estão em xeque. Já não existem modelos prontos e acabados, receitas mágicas. Cada país terá de procurar e encontrar sua própria saída.

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