São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 1994
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Outra mágica?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Da maneira como estão as coisas, a nova moeda soa a mais uma mágica contra a inflação.
Toda a pregação anterior, em torno da necessidade imperiosa de ancorar o real em um severo ajuste fiscal, acabou perdida na poeira do tempo transcorrido. Fala-se hoje muito mais em URV, real, inflação zero ou perto disso e muito pouco em equilíbrio orçamentário.
Aliás, nem se pode falar em Orçamento equilibrado (ou desequilibrado) porque não há um Orçamento aprovado pelo Congresso, apesar de já ser maio.
Nove de cada dez economistas garantem que a implantação da nova moeda vai derrubar a inflação e mantê-la baixa por um certo período.
É o que, provavelmente, vai acontecer mesmo. Mas o ar de mágica no anúncio da nova moeda está dado pelo fato de que não há evidências palpáveis de que o equilíbrio das contas públicas, tido como fator essencial para qualquer programa de estabilização, foi alcançado, está para ser alcançado ou será alcançado a partir de medidas xis ou y do governo.
Por enquanto, tudo parece resumir-se a sumir com a inflação do mês de julho. Ou, para usar o jargão, brecar o "carry over", a contaminação da inflação futura pela inflação passada.
No mais, continua-se com a sensação (e já nem importa tanto se é uma sensação correta ou não) de que tudo o mais não foi mexido. O Estado continua não merecendo a confiança nem dos agentes econômicos, porque é um gastador inveterado, nem da população que a ele é obrigada a recorrer, por ser um péssimo prestador de serviços.
Não se trata de dizer, como muita gente já está fazendo, que é mais um estelionato eleitoral. Reduzir a inflação para eleger um candidato –no caso, Fernando Henrique Cardoso– poderia até ser um bom negócio para a maioria que é vítima da corrosão inflacionária. O problema é que se sabe que a inflação baixa não dura muito, se não houver outros tipos de ajuste, que, aparentemente, ficaram pelo caminho.
Nem é certo, aliás, que, eleitoralmente, FHC vá se beneficiar da previsível queda da inflação. Começa a parecer que quem vai se identificar com a nova moeda chama-se Rubens Ricupero. Que não é candidato.

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